O Cardeal Dom Eugenio de Araujo Sales nunca duvidou do amor
que Deus tinha por ele e isso foi provado com várias delicadezas: faleceu de
infarto agudo do miocárdio, na segunda-feira, às 22h30 do dia 9 de julho,
dormindo serenamente e em um dos dias devotados a Nossa Senhora, a da Paz, pois
ele era ex-aluno do Colégio Marista de Natal e devoto de Maria. Tinha 91 anos
e era arcebispo emérito da Arquidiocese do Rio de Janeiro. Foi arcebispo por 30
anos da cidade que o acolheu como pai e aqui mostrou, em todos os momentos de
sua existência, determinação e coragem.
O corpo foi levado para a Catedral em um caminhão do Corpo
de Bombeiros, acompanhado por um comboio na última terça-feira, dia 10 de
julho. Aguardavam o corpo de Dom Eugenio, na frente da Catedral Metropolitana,
ao lado do arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani João Tempesta, o governador
do Estado, Sérgio Cabral Filho, e o prefeito da cidade, Eduardo Paes. Na chegada,
ao meio-dia, seu corpo foi recebido com uma salva de palmas e pela Banda da
Polícia Militar, que tocou o Hino Nacional. Seu caixão estava coberto pela
bandeira brasileira. Nesse mesmo horário, todas as igrejas do Rio tocaram seus
sinos.
Ao ser conduzido e colocado exatamente em frente à Catedral,
uma pomba branca foi solta pelo voluntário da Cruz Vermelha Gilberto de Almeida,
de 59 anos, e ela acabou pousando em cima do caixão e acompanhando Dom Eugenio
até a missa das 18h. O arcebispo emérito costumava rezar o Ângelus, às 18h, todos
os dias na Rádio Catedral. Mais uma delicadeza de Deus que demonstrava o quão
iluminado ele era. A pomba é um dos símbolos do Espírito Santo demonstrando a
unção que tinha esse filho tão amado por Deus.
Em entrevista ao jornal Testemunho de Fé, o arcebispo do
Rio, Dom Orani Tempesta, declarou que Dom Eugenio foi um homem que viveu para
Deus e para o Seu povo e cujos legados são marcantes, não só para o Rio de
Janeiro, como para o Brasil e para a Igreja do mundo inteiro. Essa afirmação
foi reforçada na homilia da missa de exéquias realizada na terça-feira, 10 de
julho. “Eu creio que Dom Eugenio, desde que foi bispo no Nordeste, mostrou a
sua preocupação com a dimensão social, particularmente com a educação e a
promoção dos pobres, para que tivessem mais dignidade. É dele a iniciativa da
Campanha da Fraternidade, as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). No Rio de
Janeiro, deu continuidade ao trabalho do Banco da Providência, o acolhimento
dos refugiados, a defesa dos perseguidos políticos, e um carinho todo especial
aos excluídos, tais como pessoas com HIV”, declarou o arcebispo.
Dom Orani lembrou ainda o entusiasmo e o marcante desempenho
de Dom Eugenio pela Jornada Mundial da Juventude. Chamou a atenção para o fato
de que ele enviou uma carta para o Santo Padre indicando o Rio de Janeiro como
sede da jornada, que vai acontecer de 23 a 28 de julho de 2013, na Cidade
Maravilhosa. E finalizou dizendo que, além dos patronos e intercessores para a
jornada, haverá a intercessão especial desse amigo da arquidiocese: Dom
Eugenio, que foi cardeal, apóstolo, evangelizador.
Além de seu caráter evangelizador, outra característica
inerente a Dom Eugenio Sales foi a sua atuação na época da ditadura, acolhendo
presos e refugiados, fatos que poucas pessoas sabem.
O deputado federal do Partido da Social Democracia Brasileira
(PSDB), Otávio Leite, relembrou que Dom Eugenio era um homem que tinha uma
personalidade ímpar, uma liderança toda especial. Disse ainda que o cardeal
fundou a Pastoral dos Católicos na Política e que o próprio deputado participou
da fundação. “Qual era o objetivo de Dom Eugenio? Reunir, em um grupo,
parlamentares de vários partidos que tinham uma identidade comum, o interesse
pela religião, a preocupação com os valores que emanam da doutrina católica.
Desde essa época, nós nos reunimos a cada dois meses. Guardo uma admiração
especial pela sua ação política. Por outro lado, seu trabalho silencioso de
apoio, dando retaguarda por meio da Cáritas aos prisioneiros políticos, não só
daqui, mas de outros países que aqui se refugiavam”, destacou o deputado.
A missa celebrada por Dom Orani foi simples e especial, como
Dom Eugenio. No final da celebração, o pároco da Igreja de Nossa Senhora da
Paz, em Ipanema, monsenhor Manoel Moreira Vieira sintetizou o significado
desse homem incansável na fé: “Dom Eugenio foi um grande pastor, um homem
sensível às necessidades do nosso povo, um pastor comprometido com a história,
uma pessoa realmente marcante, um testemunho humano e cristão fora do comum”,
resumiu.
FOTO: GUSTAVO DE OLIVEIRA