O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
divulgou, no dia 29 de junho, o resultado do Censo 2010 no que diz respeito à
religião do povo brasileiro. Os dados do Censo 2010 mostram maior diversidade
religiosa da população brasileira, mas com permanência da maioria de
católicos, que somam 64% da população. O restante da população está assim
dividida: 22,2% de evangélicos, 8% se declaram sem religião, 3% por outros
credos e 2% por espíritas.
Durante os dias que se seguiram, houve diversas reportagens
sobre o tema, nas quais foram deixados de lado importantes dados em nome de uma
apressada divulgação da queda do número de católicos, que eram, em 2000, 73,6%
da população.
Para o arcebispo do Rio, Dom Orani João Tempesta, os dados
em si não apresentam a realidade que a Igreja vive em seu interior. “Nós
sabemos a importância que tem a missão de evangelização, da Igreja que
evangeliza. Podemos ver hoje que há muito mais participação dos cristãos
leigos, de pessoas conscientes de sua fé, assim como o aumento no número de
sacerdotes. A Igreja anuncia Jesus Cristo e está presente em todos os lugares
do mundo; em alguns países com maior percentual, como no Ocidente, em outros
com menor, como no Oriente. O importante é que nós façamos bem a nossa parte em
todos os aspectos e saibamos realizar bem a nossa missão”, afirmou.
O presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e
arcebispo de Aparecida, Dom Raymundo Damasceno Assis destacou que, por ter
sido uma pesquisa feita por amostragem e não cidadão por cidadão, os dados
apresentados pelo IBGE se aproximam da realidade, porém não a t raduzem de
maneira total e objetiva. “Mas é muito importante lermos os dados e tirarmos
conclusões para a nossa ação pastoral, independentemente de concordarmos ou
não com eles. Precisamos fazer de nossas paróquias verdadeiras redes de
comunidades eclesiais, com abertura muito grande para os religiosos,
consagrados, movimentos apostólicos e novas comunidades. Fazermos nossas paróquias
cada vez mais missionárias, impulsionadas a ir ao encontro das pessoas,
sobretudo as mais distantes de nossas comunidades, nas periferias”, pontuou.
CONTRADIÇÕES NA APURAÇÃO DOS DADOS
Há de se lembrar, no entanto, que na época da realização do
censo, a Igreja no Brasil se manifestou apontando os possíveis erros que
poderiam acontecer na tabulação dos dados, devido ao fato de, na pergunta
relativa às religiões, haver 27 opções e subdivisões da religião católica, das
quais pelo menos 12 não eram outras igrejas, confissões ou religiões, mas
grupos e associações que existem dentro da confissão católica romana.
E não somente a Igreja Católica foi prejudicada. Na
ocasião, em um artigo intitulado “Censo e religião: algumas interrogações”, a
teóloga Maria Clara Bingemer, vice-decana do Centro de Teologia e Ciências
Humanas da PUC-Rio, denunciou que a Igreja Evangélica de Confissão Luterana do
Brasil (IECLB), uma das mais importantes denominações protestantes históricas,
que representa três quartos dos luteranos brasileiros, se queixava de haver
sido excluída das opções do censo. “Em meio a 48 designações com o termo
‘luterano’, não se encontra a IECLB”, afirmou.
No mesmo artigo, Maria Clara alerta para o risco de os resultados
da pesquisa serem “deturpados e o censo perder seu objetivo e sua razão de
ser, que é apresentar uma radiografia o mais exata possível do povo
brasileiro”. “É muito positivo que todas as pertenças religiosas do nosso país
apareçam no censo, de maneira que todas as pessoas se encontrem contempladas na
medida do possível, mas parece nebulosa a questão do cristianismo histórico
devido à maneira como são formuladas as perguntas. A importância do censo é
inegável, porém o quesito religião deixa muito a desejar em termos de clareza e
precisão”, escreveu.
ANDRÉIA GRIPP
FOTO: GUSTAVO DE OLIVEIRA