A Cáritas esteve presente durante todas as atividades desenvolvidas durante a Conferência Internacional Rio+20. Tanto no Aterro do Flamengo, no espaço onde aconteceu a Cúpula dos Povos, quanto no Riocentro, onde estava montada a Cúpula Mundial, a Cáritas realizou diversas atividades e debates levando os participantes a refletirem sobre a centralidade do ser humano no desenvolvimento sustentável.
Para aprofundar a temática e preparar seus delegados,
representantes da Cáritas dos países latino-americanos se reuniram no dia 18 de
junho, no auditório do Edifício João Paulo II, sede da Arquidiocese do Rio, na
Glória. Na ocasião, refletiram sobre “o futuro na perspectiva da Cáritas”.
A reunião foi presidida por Martina Liebsch, membro da
Cáritas Internacional. Foram apresentados os cinco elementos ou dimensões
fundamentais, na visão da entidade, para o desenvolvimento humano: um futuro
sem fome, o compromisso com os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM),
um futuro de cuidados com a criação, o novo marco econômico “verde” e um novo
contrato social, marcado pelo respeito aos homens e mulheres criados à imagem
de Deus.
A primeira dimensão, um futuro sem fome, foi explicitada por
Yuri Munsayac, da Cáritas Filipinas: “Conclamamos os líderes para fazer da
luta contra a fome uma prioridade, e assegurar o direito à alimentação. A
alimentação é a base para desenvolver nossas capacidades e talentos. Uma
população com fome não pode contribuir totalmente para o bem de suas
comunidades nem de suas famílias. Estamos desperdiçando importantes recursos
humanos, que são essenciais para a saúde do nosso planeta. A única fome que
deveríamos sofrer é a fome de justiça, equidade, sustentabilidade ecológica e
corresponsabilidade”.
O membro da Cáritas Espanhola, Martin Lago, falou sobre a
segunda dimensão, um futuro com visão contida no documento Objetivos de
Desenvolvimento do Milênio: “É preciso que haja compromisso dos lideres para
aplicá-los. É importante aprofundar o sentido desses objetivos com as pessoas
mais afetadas, adaptando-os às necessidades de hoje. Além disso, é essencial
que um marco renovado de tais objetivos contenha compromissos por parte dos
países desenvolvidos para que se envolvam na promoção de um modelo de
desenvolvimento a favor do bem estar de toda a humanidade, priorizando a
justiça, a equidade, a sustentabilidade ecológica e a corresponsabilidade”.
Lorenzo Figueroa Leon, membro da Cáritas Chile, discursou
sobre “um futuro de cuidados com a nossa casa, a criação”, terceira dimensão
fundamental para o desenvolvimento humano na visão de Cáritas: “Conclamamos a
que a capacidade transformadora do ser humano seja utilizada para o cuidado da
criação e se incentivem ativamente projetos, ideias e medidas que cuidem do
ambiente. Nossos ambientes de vida, sejam eles rurais ou urbanos, devem
caracterizar-se por uma vida digna e sã com máxima sustentabilidade ecológica.
O foco de conquista e de exploração dos recursos naturais tem predominado e se
estendido, ameaçando hoje a própria capacidade de acolhida do meio ambiente: o
ambiente como ‘recurso’ coloca em perigo o ambiente como ‘casa’ ”.
A quarta dimensão, que versou sobre o novo marco econômico
“verde”, foi apresentada por Ademar Bertucci, membro da Cáritas Brasileira: “A
Cáritas apoia a ideia de uma economia verde, desde que respeite princípios éticos,
de equidade e solidariedade. Defendemos que a construção de uma visão de
economia ‘verde’ não substitua, nem deixe de fora, as premissas correspondentes
ao desenvolvimento humano, integral e sustentável construídas há décadas. O
novo marco econômico não deve centralizar-se na maximização de benefícios, mas
deve favorecer o trabalho digno, dando esperança sobretudo aos milhares de
jovens que estão sem trabalho”.
Para falar sobre a quinta dimensão, “um futuro que respeite
as mulheres e homens”, foi dada a palavra a Martina Liebsch: “Defendemos o
desenvolvimento de um código de conduta para uma cidadania global solidária.
Isto significa definir um novo contrato social que leve em conta nossa interdependência
e convoque a atuar como cidadãos responsáveis pelo bem comum. Todos somos consumidores
dos produtos da criação e, como sujeitos responsáveis, podemos optar por
maneiras de viver que favoreçam o desenvolvimento, cuidem do meio ambiente e
reduzam os efeitos negativos para os mais pobres. Por isso, propomos um modelo
econômico que inclua dinâmicas de democracia participativa e promova a
dignidade humana, o desenvolvimento humano sustentável e a distribuição da
riqueza. Clamamos a todas as pessoas de boa vontade para que estabeleçam uma
cultura de respeito e de diálogo que possibilite o acesso aos direitos e à
justiça”.
ANDRÉIA GRIPP
FOTOS: CARLOS MOIOLI