segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Preparando-se para as eleições de 2012



É novamente tempo de eleições! Queremos votar bem. Desejamos que o bem comum seja o grande critério de quem se candidata e de quem vota. No entanto, deparamo-nos com uma verdadeira caça ao voto. São promessas, acusações mútuas, alianças entre pessoas que, antes, eram opositoras politicamente. Muitos candidatos se apresentam como se fossem salvadores da pátria. Alguns trazem projetos para quando assumirem o mandato. Outros simplesmente tentam conseguir a simpatia da população, oferecendo benefícios imediatos, que até podem ser necessários, diante da carência em que se encontra nosso povo. Tudo isso deixa o eleitor bastante confuso.
Consciente da responsabilidade de todos os cristãos no sentido de dar ao desafio eleitoral uma resposta à luz da fé, a Arquidiocese do Rio de Janeiro propõe os seguintes itens para a reflexão que antecede o voto consciente.

O EMPENHO PELA PAZ
A paz é um grande clamor e uma reivindicação de todos. Não podemos, porém, imaginar que paz seja apenas ausência de guerra ou de violência. No atual momento da história da humanidade, diante da crescente onda de violência e exclusão social, a proposta de uma cultura da paz tem adquirido gran­de importância. A paz é também presença de justiça, solidariedade, partilha, desenvolvimento e pro­gresso dos povos.
Ao escolher os candidatos, é preciso saber o que eles pensam sobre cada uma destas condições para a existência de uma verdadeira cultura da paz. É preciso saber como eles realmente têm se portado na vida pública e na comunidade onde vivem. É preciso saber se o discurso sobre a paz não é apenas um con­junto de palavras usadas apenas para atrair o eleitor.

RESPEITO À VIDA E À DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
O primeiro passo para a cons­trução da paz é a defesa da vida e da dignidade da pessoa humana em todas as suas manifestações, desde a concepção até o fim natural, com a morte. Isto somente é possível pela rejeição de tudo que fere a vida, com atenção especial para o aborto e a eutanásia , a exploração dos meno­res, o abuso de idosos e deficientes e o insuficiente serviço de saúde para os mais necessitados. Isto somente é possível também pela defesa da infância e da adolescên­cia, do combate ao uso de drogas, à prostituição, à pornografia e à exploração do trabalho infantil.
Pensar na vida e na dignidade humana é, também, pensar em quem respeita o equilíbrio da na­tureza: florestas, rios; promove o saneamento básico e a construção de moradia em lugares sem risco.
E ainda em quem se preocupa com o transporte público, digno e de qualidade para a população. Em quem se compromete com uma or­ganização eficaz para a segurança da sociedade.

DEFESA DA FAMÍLIA
Para um candidato efetiva­mente se preocupar com a vida e a pessoa humana, ele deve ter a defesa da família como uma de suas principais metas. Infelizmente, em nossos dias, muitos costumam dizer que a defesa da família é uma atitude conservadora e ultrapas­sada. Outros candidatos, sabendo que a Igreja defende e promove a família, até incorporam este tema em seus discursos. Na hora, porém, de efetivamente sair em prol da família, pouco ou nada fazem. O Evangelho, porém, nos ensina que deixar de defender a família é não se comprometer com a vida e a paz.
Defende a família quem se esforça pela geração de empre­go e renda dignos para os pais e mães, escola para as crianças e assistência médica para todas as idades. Defende a família, quem se empenha pelos direitos individuais, pela família baseada no casamento entre um homem e uma mulher, pelo direito dos pais de escolherem a educação de seus filhos.
Mas, é preciso tomar muito cuidado para não confundir a defesa da família com projetos em favor das uniões estáveis, do casamento entre pessoas do mesmo sexo ou a legalização do aborto.
Por isso, diante dos candidatos, não indague apenas se ele defende a família. Levante algumas ques­tões bem concretas, baseadas no que a Igreja indica como defesa autêntica da família. Faça, então, o discernimento a partir das respos­tas teóricas e práticas que a vida do candidato apresentar.

DIREITO À EDUCAÇÃO INTEGRAL
Na defesa da família, não se pode deixar de lado o direito de todos à educação. À luz da fé, a edu­cação é um direito de toda pessoa, cabendo à família e não ao Estado a direção do processo educacional. A verdadeira educação é aquela que respeita as opções da família, sem impor ideologias do Estado ou de uma parcela da sociedade.
O que seu candidato tem de fato realizado em favor da educação? O que ele diz quando mostramos a ausência de escolas, especialmente para os mais pobres? Como ele age diante da uma realidade que trans­formou a educação em fonte de lucro, deixando em segundo plano a formação integral das pessoas?

ENSINO RELIGIOSO CONFESSIONAL E PLURAL
A educação integral respeita as convicções das pessoas e a orien­tação religiosa das famílias. Uma grande conquista foi a aprovação, no Estado do Rio de Janeiro, do En­sino Religioso Confessional e Plural. Infelizmente, já há muita gente querendo bloquear este avanço, seja procurando a revogação da lei, seja impedindo sua implantação.
Você conhece esta proposta de ensino religioso confessional e plural? Que passos você tem dado para conhecer bem esta propos­ta? E o seu candidato? O que ele pensa sobre este assunto? Como ele tem se posicionado? Ele está entre os que têm tentado revogar a lei? Está entre os que estão im­pedindo sua implantação?

EFETIVA SENSIBILIDADE PELOS POBRES
Não há verdadeira defesa da vida nem da pessoa humana, en­quanto não se tomarem medidas concretas em relação à miséria em que vive boa parte da nossa gente. Também neste ponto é pre­ciso ter muita atenção, pois todos os candidatos dizem estar ao lado dos pobres. É lamentável ver candidato que se aproveita do sofrimento e da fragilidade dos pobres para ser eleito. São promessas enganosas e ajudas que não chegam ou, quando chegam, nada fazem para superar a pobreza. Certas atitudes são, na verdade, ins­trumentalização dos pobres.
O que o seu candidato tem feito em favor dos pobres? Ele é daqueles que, por exemplo, abrem um local de atendimento médico, emprestam ambulância, mas não se preocupam com um sistema de saúde público acessível a todos? O que o seu candidato tem feito em favor de habitação, saúde, emprego e edu­cação para os mais pobres? As ati­vidades de seu candidato em favor dos pobres vão realmente vencer a pobreza ou servem apenas como propaganda para ganhar voto?

USO DE VERBAS PÚBLICAS
A superação da pobreza pas­sa também pelo modo como se administram as verbas públicas. Infelizmente, os noticiários têm mostrado vergonhosos abusos no trato da coisa pública. A corrupção tem sido o prato do dia. Em boa parte, os orçamentos são apenas instrumentos de barganha política. Vemos constantemente quantias fabulosas de dinheiro público serem usadas pela máquina administrati­va em gigantescas campanhas de divulgação de feitos dos governos em seus vários níveis, enquanto a saúde, a educação, a habitação e a geração de emprego são deixadas em segundo plano ou mesmo es­quecidas. É preciso que a sociedade, por meio dos organismos de parti­cipação política, atue vivamente na indicação do que, de fato, é neces­sário para a melhoria nas condições de vida da população.

RESPEITO À RELIGIÃO
O desrespeito que acontece em relação à vida, às pessoas, ao bem comum e às coisas públicas tam­bém ocorre em relação à religião. Ora, quem não respeita a religião das pessoas está indicando que não respeita nada mais. E muitos são os modos de se desrespeitar a religião.
Alguns usam a religião para enriquecer, explorando a boa fé do povo. Outros usam a religião para garantir que são os candidatos de Deus. Mesmo em nossos dias, marcados pelo diálogo e pelo ecu­menismo, existem alguns grupos religiosos que se preocupam mais em dividir do que unir e dialogar. Alguns se dizem religiosos, se dizem católicos praticantes, mas só os vemos no período eleitoral.
De que maneira seu candidato se posiciona nas questões religiosas? Respeita? Tenta tirar proveito para ganhar a eleição? Despreza, critica ou mesmo agride a Igreja Católica?

A HISTÓRIA PESSOAL DO CANDIDATO
A eleição para um cargo político não transforma pessoas. Se, um político se revela diferente do que conhecíamos antes da eleição, é porque, na verdade, está desempe­nhando um papel para convencer os eleitores. Portanto, precisamos co­nhecer bem a vida dos candidatos.
Se for alguém com carreira polí­tica, é importante olhar o que já fez nos mandatos anteriores, descobrir as causas que abraçou, se esteve ou não envolvido em falcatruas, se, com facilidade, mantém contato com seus eleitores ou se deles se afasta depois de eleito.
Se for alguém que esteja iniciando a carreira política, é importante olhar sua vida profissional, nela buscando honestidade, transparência, respeito às pessoas e ao bem comum. É pre­ciso verificar se é uma pessoa que se aproveita das outras, se o estilo de vida corresponde ao que faz.
Por isso, será preciso entrar em contato mais intenso com os candidatos, conversando com eles e com quem os conhece, tomando in­formações, assistindo a entrevistas nos diversos meios de comunicação (não apenas um!).
Um bom caminho é sempre perceber quem está apoiando o candidato ou candidata. A partir de quem o apóia, também podemos ter uma boa compreensão de quem é o candidato. Neste sentido, é muito importante saber de onde estão realmente vindo os recursos finan­ceiros para a campanha. Quem está financiando o candidato?

A VERDADEIRA CONTRIBUIÇÃO DO CANDIDATO
Há muitos cristãos dedicados, que desejam viver a santidade. Têm amor a Deus e ao próximo. Amam tanto a Deus que desejam mudar a sociedade. Estes cristãos se can­didatam a cargos eleitorais com as melhores das intenções. Em geral, se filiam a partidos pequenos, que fa­zem coligações com outros maiores.
O problema é que, de acordo com o sistema eleitoral brasileiro, o voto dado a um destes candidatos pode, por mais estranho que pareça, eleger outra pessoa com propostas que não vão ajudar o povo. Isto acontece porque a legislação brasi­leira segue o sistema de voto pro­porcional, isto é, se uma pessoa não for eleita, o total de seus votos vai para o partido ou para a coligação, somando-se ao número de votos do candidato mais bem colocado.
Cuidado com candidatos que desejam dar um pulo muito grande, queimando etapas! O cristão que deseja se engajar na política deve conhecer a doutrina social da Igreja, participar das pastorais sociais, filiar-se à associação de moradores de seu bairro, participar do sindicato de sua classe trabalhista, ser filiado a um partido e, depois, quem sabe, se candidatar.

O PARTIDO A QUE O CANDIDATO ESTÁ FILIADO
Embora, no atual quadro político brasileiro, não se dê muito valor aos partidos políticos, é indispensável identificar o partido ao qual o can­didato está filiado. Isto acontece porque não existe candidato isolado do partido. Mesmo que, a toda hora, tenhamos notícias de políticos mu­dando de partido, como se o partido não valesse muito, a verdade é bem outra.
O partido político também pesa na hora em que o candidato se posiciona diante das questões que lhe são apresentadas. Um político pode até não votar com o partido em questões de menor importân­cia, mas, naquelas que realmente atingem a vida do povo, é ali que partido e candidato se revelam. Estas questões dizem respeito, por exemplo, ao destino das verbas públicas, à ausência de manobras escusas para garantir benefícios, firmeza diante da corrupção e à defesa da vida dos pobres.
Por isso, na hora do voto, não podemos separar demais o candi­dato do partido. Devemos identi­ficar qual é o partido e o que este partido tem feito em benefício do povo. Precisamos saber no que o partido está envolvido. Desconfie bastante de candidato que diz aos eleitores para não se preocuparem muito com o partido.

VOTO NÃO TEM PREÇO. TEM CONSEQUÊNCIAS.
Vários são os exemplos de po­líticos que agem comprando votos. Eles fazem isso, por exemplo, com obras realizadas no final dos man­datos. Outros prometem empregos, garantem cargos. Estes e muitos outros exemplos são, na verdade, compra de voto, troca de favores. Escolha candidatos que não tro­cam seu voto por tijolos, bolsas de alimentos, remédio, promessas ilusórias para melhorar seu bairro.
Foi por isso que o povo brasilei­ro, em um dos grandes momentos da sua história cívica e política, propôs e conseguiu a aprovação da Lei Contra a Corrupção Eleitoral, Lei nº 9840, de 28 de setembro de 1999. Ela se destina a coibir o crime da compra de votos e o uso da máquina administrativa. A pena é a cassação do registro do candidato, aplicada antes da eleição ou da diplomação do infrator. E, mais recentemente, a chamada Lei da Ficha Limpa que nos dá a possibilidade de olhar para a vida e o passado do candidato. Pois não queremos pessoas que pela corrupção, ou qualquer outro meio ilícito, aumentam seus bens.
Pelo Brasil afora, existem comi­tês de fiscalização. Toda comunida­de e todo eleitor devem saber onde fica o comitê local e dele participar ativamente.

COMO AGIR NA COMUNIDADE?
A Igreja, como instituição pú­blica, não pode fazer propaganda eleitoral. Ela pode apontar critérios para que os eleitores possam deci­dir conforme sua consciência.
Estes critérios servirão muito pouco se nossas comunidades não estiverem atentas a alguns perigos.
O primeiro perigo é o de não se comprometer com o momento eleitoral, achando que este é um assunto do mundo, sem ligação com a vida na fé. O melhor caminho para evitar este perigo é sempre lembrar que por omissão também se peca.
Podemos criar momentos de debates com vários candidatos, de vários partidos para que definam suas propostas e respondam às questões de nosso interesse para que tenhamos mais facilidade para usar nosso direito de escolha. Por isso, é preciso estimular reu­niões, debates com candidatos e outros momentos para a tomada de consciência a respeito do voto responsável. Estes debates podem ser promovidos pela igreja e, até mesmo, realizados nos salões pa­roquiais, mas precisam respeitar a lei que orienta que o debate deve ser sempre com candidatos de vários partidos. Ao mesmo tempo ou promovidos em vários dias de debates em que os todos os parti­dos tenham sido instados a enviar seus representantes.
O segundo perigo é amarrar a vida da comunidade a um candida­to. Às vezes, fazemos isto até sem perceber. Assim acontece quando o candidato promete algum tipo de ajuda de que a comunidade tanto precisa. O melhor caminho para evitar este segundo perigo é lembrar que os discípulos de Jesus não se devem deixar usar por quem quer que seja, mesmo que sob o pretexto de ajuda. Se um candidato quiser se aproveitar da comunidade, o que não fará quando, pelo voto, lhe dermos o cargo?
Portanto, não podem ser colo­cados nas igrejas, salões e demais espaços da comunidade, cartazes, faixas, adesivos ou qualquer outra forma que vincule a comunidade a algum candidato, mesmo que origi­nário da própria comunidade.
Também não se pode abrir espaço nas atividades religiosas (celebrações, encontros etc.) que beneficiem um único candida­to ou que se caracterize como propaganda eleitoral direta ou indireta. O espaço especifica­mente religioso, principalmente a Celebração Eucarística, não deve ser instrumentalizado para a apresentação direta ou indireta de algum candidato, mesmo que este seja originário da comunida­de. Se a comunidade deseja ouvir algum candidato ou um conjunto de candidatos, poderá fazê-lo em encontro especial, claramente identificado como sendo para esta finalidade. Nunca, portanto, nem na Celebração Eucarística nem em en­contros de oração ou evangelização.
Clérigos e religiosos não podem permitir que sua imagem seja as­sociada a um ou outro candidato, mesmo que a ele ou a ela vá receber seu voto. Consequentemente, não se deixarão fotografar ao lado de candidato algum, bem como pron­tamente solicitarão aos candidatos que retirem de sua propaganda impressa ou virtual imagens que, direta ou indiretamente, venham a dar a impressão de indicação de voto.
Uma terceira atitude que preci­samos evitar é a de se fazerem lis­tas indicando ou vetando candida­tos. O voto é um ato da consciência, exercido na liberdade e na respon­sabilidade. Como vamos querer um país livre se, já na hora da eleição, desrespeitamos a consciência das pessoas? Por isso, não serão, em hipótese alguma, elaboradas listas indicando em que candidatos as pessoas devem ou não devem votar.
Se alguém pedir à comunidade uma ajuda para discernir o voto, a única resposta é: “Venha! Participe conosco das reuniões e dos deba­tes e decida de acordo com a sua consciência!”
Um excelente local para que os católicos possam se reunir e bem discernir em quem votar é a própria residência. Por que não convidar os parentes, amigos e conhecidos, abrir a residência e convidar o candidato ou candidata que você gostaria de ouvir e interpelar? Por que esperar que a comunidade faça uma reunião?

ARQUIDIOCESE DO RIO DE JANEIRO
FOTO: DIVULGAÇÃO