segunda-feira, 9 de julho de 2012

Ensino religioso transmite valores essenciais



Os alunos do ensino funda­mental, de turno integral, das escolas municipais do Rio de Ja­neiro vão contar com um refor­ço educacional, a partir do 2º se­mestre de 2012 – o Ensino Reli­gioso (ER). Esse complemento, oferecido de forma opcional, pre­tende preencher uma lacuna es­sencial, presente no ser humano: a dimensão espiritual, que não estava sendo contemplada com o investimento apenas na parte intelectual e física do estudante.
Por meio da Lei 5.303/2011, sancionada pelo prefeito Eduar­do Paes, que instituiu o ensino religioso na Rede Municipal de Ensino, as escolas de turno inte­gral vão oferecer a disciplina, de forma opcional, plural e confes­sional, para os alunos do ensino fundamental. As religiões con­templadas, depois de uma pes­quisa nas escolas, foram: católi­ca, evangélica, espírita e afro-des­cendentes. A legislação permiti­rá, por exemplo, aos pais católi­cos, que não tiverem condição de colocar seus filhos em um colégio particular católico, a oportunida­de de oferecer esse conhecimen­to específico para eles.
“O ensino religioso não é um corpo fora do projeto peda­gógico de uma escola. A educa­ção tem que propiciar e integrar a dimensão material e espiritu­al do ser humano, contemplan­do o seu valor absoluto e infi­nito, a sua sacralidade e indivi­sibilidade”, afirmou o ex-depu­tado Carlos Dias, autor da Lei 3.459/2000 que instituiu o ensi­no religioso confessional nas es­colas públicas do Estado do Rio de Janeiro.
O coordenador do Ensino Re­ligioso na Arquidiocese do Rio, professor Raimundo Nonato, ressaltou que o ER está dentro de uma concepção pedagógica e trabalha a identidade religiosa do aluno, o sentido de sua exis­tência, buscando acompanhar a visão de mundo que esse aluno tem, a partir de sua experiência com o transcendente, e as atitu­des que precisa ter para viver de forma coerente com o seu credo.
“Ensino religioso não é cate­quese, é o aprofundamento da identidade religiosa do aluno. Esse respeito por si mesmo e pelo outro é um valor importantíssi­mo e vai repercutir numa convi­vência mais fraterna e solidária das pessoas no ambiente educa­cional. Eu vejo o ensino religioso como um grande passo para que a sociedade viva a solidariedade, o respeito ao outro, a justiça e a cidadania”, afirmou o professor.
Ele afirmou que, durante os 23 anos de vivência do ensino religioso na rede estadual, não observou qualquer confli­to religioso entre os alunos.
“Na montagem de tarefas em conjunto, trabalhando a in­terdisciplinaridade, em projetos onde uníamos a religião à arte e às questões sociais, sempre hou­ve boa convivência e respeito mú­tuo entre alunos e professores de religiões diversas. Quem diz que pode haver conflito entre as reli­giões nas escolas é porque nun­ca vivenciou a questão, e quer ‘ti­rar a fé do coração de nossos jo­vens’, como já disse o Papa Ben­to XVI”, afirmou.
Para o professor, alguns cre­dos não foram incluídos, por­que essas religiões e manifesta­ções religiosas não se apresen­taram e deixaram seus lugares em branco. Além disso, na pes­quisa de campo feita com os alu­nos, algumas religiões minoritá­rias não foram citadas por eles e, por isso, não puderam ser incluí­das. “O ensino religioso foi aberto para todos, mas alguns não que­rem essa disciplina nas escolas”, informou Nonato.

CRESCIMENTO TOTAL
Segundo especialistas, o en­sino religioso precisa ser ofere­cido de forma confessional, ou seja, cada turma com professo­res e alunos do mesmo credo, porque a abordagem superficial de várias religiões pode acabar sendo tendenciosa. Mesmo sem perceber, de forma subjetiva, o professor pode transmitir a fé em uma religião específica e até mes­mo a ausência de fé, o que pode­rá influenciar o aluno a seguir em uma direção contrária à deseja
da pelos seus pais e responsáveis.
A professora Ediléia da Sil­va Santos, membro do conselho fiscal da Associação de Professo­res de Ensino Religioso Católico, que já foi coordenadora da Edu­cação Religiosa no Estado do Rio de Janeiro, essa disciplina promo­ve a convivência fraterna e res­peitosa entre alunos de diferen­tes religiões.
“Cada professor vai tra­balhar com a especificida­de do seu próprio credo. Em breve, veremos a maravilha que será o ensino religioso nas escolas, porque uma criança não precisa somente de geografia, matemática e história, para cres­cer como pessoa humana”, refor­çou Ediléia.

A CONSTITUCIONALIDADE DA LEI
Segundo Ediléia, o ensino reli­gioso está assegurado pela Consti­tuição Federal, no artigo 210, pará­grafo 1º; na Constituição Estadual, no artigo 310, e pela Lei de Dire­trizes e Bases. “É importante tam­bém ressaltar a Resolução nº 2, de 1998, da Câmara de Educação Bá­sica do Conselho Nacional de Edu­cação, que instituiu as diretrizes curriculares nacionais para o en­sino fundamental, onde a educa­ção religiosa foi citada como uma das áreas que deveriam ser prio­rizadas em toda escola, de 1º e 2º grau. Existe o entendimento de que o ER não é uma informação sobre religião, mas formação reli­giosa para o aprendizado do alu­no”, disse a professora.
Carlos Dias também desta­cou que o ER está de acordo com a Constituição Brasileira. “Existe também um acordo assinado en­tre a Santa Sé e o Estado Brasilei­ro que fala objetivamente do ensino religioso confessional e plural. Esse tratado internacio­nal tem força de lei e peso cons­titucional na jurisdição brasilei­ra. Pelo fato de ser confessional, o ER permite que cada credo tenha a sua expressão autêntica”, disse.

EDUCAÇÃO PARA A PAZ
Carlos Dias ressaltou que o ER agrega um valor fundamental, por­que constrói a pessoa, ajudando na maneira como ela vai se posicionar, diante da realidade vivenciada, e capacitando-a para maior reflexão sobre as atitudes de paz e justiça que devem ser tomadas. Ele acre­dita que o investimento na discipli­na do ER gera uma educação para a paz dentro das escolas, porque recupera o ambiente educacional.
“Observamos a presença de drogas nas escolas, gravidez na adolescência, violência contra alunos e professores. Em muitos locais, é o aluno quem dita as re­gras da sala de aula, e não o pro­fessor. Além disso os níveis de re­petência e evasão escolar estão al­tíssimos. O ER tem um sentido de reintegração. A religião dá à pes­soa senso crítico apurado para fa­zer escolhas”, disse.
Ele acredita que alguns não conseguem ver o valor do ensi­no religioso, por causa de um pre­conceito contra as religiões, e que um estado laico, mas não ateu e de maioria cristã, deve respeitar a au­tonomia e a essência religiosa de todas as pessoas. “O ER é um auxí­lio fundamental para que as crian­ças tenham um futuro melhor”, in­centivou.


CLÁUDIA BRITO
FOTO: GUSTAVO DE OLIVEIRA