sexta-feira, 13 de julho de 2012

Ensino Religioso: Em defesa da democracia



Respeitar o direito da minoria não significa ignorar a opinião da maioria. O argumento, que expõe o entendimento de um Estado democrático, é defendido por líde­res religiosos, professores, pais e alunos que desejam que o Ensino Religioso (ER) seja implantado de forma facultativa nas escolas de turno integral da Rede Municipal do Rio de Janeiro, a partir do se­gundo semestre deste ano.
“Os professores aprovados no concurso serão credenciados e preparados durante o mês de ju­lho para que as aulas comecem em agosto. Como o ER vai ser realiza­do em turmas de turno integral, não mexerá na grade curricular e não concorrerá com nenhuma outra disciplina”, garantiu o bispo animador do Ensino Religioso nas Escolas, Dom Nelson Francelino Ferreira.
O bispo acrescentou que o desejo e o apelo de uma grande porcentagem de pais não podem ser recusados por um grupo mi­noritário. “Um Estado democrá­tico respeita a opinião da maioria da população. A religião não é um detalhe, mas um elemento essencial na vida humana, e deve acompanhar o desenvolvimento intelectual das crianças”, alertou.
Para o diretor do Dere (Depar­tamento de Ensino Religioso) nas Escolas Públicas da Omebe (Or­dem dos Ministros Evangélicos no Brasil e Exterior), pastor Francisco Nery, o ER tem uma função essen­cial e civilizatória, que prioriza a dimensão da transcendência do ser humano.
“As escolas não devem formar meramente técnicos. O conheci­mento científico é importantís­simo, mas os valores transcen­dentes precisam ser respeitados, conhecidos e aprofundados. O ER ocupa uma função primordial porque trabalha com valores hu­manos e eternos”, disse.
O líder evangélico ressaltou que no ER o ser humano é en­tendido de forma holística, em sua totalidade e integralidade. “Através do ensino religioso se inicia um processo de autoconhe­cimento que vai gerar frutos de compaixão e entendimento, não só em relação aos outros seres humanos, mas à criação como um todo. O pensamento ecológico é contemplado com o ER”, destacou pastor Francisco.
A vice-primaz do Primado de Umbanda, professora Darlene Ri­beiro, acrescentou que o ER pode diminuir a incidência de bullying nas escolas. “O ensino religioso tem muito a contribuir para a melhoria do cidadão, porque toda religião prega a moral, fala em Deus e sobre a importância do respeito ao próximo”, disse.
Ela acredita que diante da re­flexão sobre a sua própria religião ou até a ausência de religião, o aluno aprende a conviver com o diferente. “Ele vai ter consciên­cia de que o mundo é plural. A importância do ER é que o aluno aprende a respeitar o seu próxi­mo”, avaliou.

ENSINO RELIGIOSO PRECISA SER PLURAL E CONFESSIONAL
Para Dom Nelson, um Estado laico é aquele que acolhe várias visões religiosas, mas não é um estado ateu ou que privilegia as pessoas sem religião, e onde o governo interfere na opção reli­giosa de seu povo. “O Brasil é um país laico, mas não pode ignorar a questão religiosa e cultural que marca a sua história. Percebemos que existem algumas pessoas que querem difundir um conceito de ateísmo e de aversão à religião, mas isso não procede, sobretudo em um município onde o núme­ro de pessoas religiosas é muito grande”, afirmou.
Os líderes religiosos concor­dam que o ER precisa ser plural e confessional, e que as aulas não podem ser dadas de forma super­ficial e, muitas vezes, tendenciosa, para não gerar proselitismo. “No ensino confessional cada credo tem a oportunidade de se expressar. Não podemos esquecer que, quan­do um único professor fala sobre várias religiões na sala de aula, sempre haverá um dado tenden­cioso”, disse a professora Darlene.
O pastor Francisco informou que o Dere tem um manifesto em defesa do ensino religioso confessional, que pode ser encon­trado no blog www.omebe-dere.blogspot.com.br.
“Se estamos em um Estado de­mocrático de direito, a lei deve ser respeitada, para o fortalecimento da democracia. O ER não pode ser comparado a outras instâncias de conhecimento. História das religi­ões pertence ao campo da história, fenomenologia pertence ao campo da filosofia e ensino religioso é prerrogativa das religiões. Assim como existem colégios confes­sionais particulares, os alunos de escolas públicas também devem ter o direito de optar por um ensi­no religioso confessional em uma escola pública”, concluiu o pastor.

CLÁUDIA BRITO
FOTO: SXC.HU