segunda-feira, 23 de julho de 2012

“Darei o que é meu, e me darei a mim mesmo pelas vossas almas”



Dom Eugenio de Araujo Sales, nasceu em 8 de novembro de 1920, em Acari, no Rio Grande do Norte, sendo seus pais o desembargador Celso Dantas Sales e Josefa de Araujo Sales.
Em entrevista concedida ao jornal Testemunho de Fé em 2010, quando celebrou seus 90 anos, con­tou que desde criança começou a se preocupar com a fé, através do incentivo e testemunho de seus pais.
Ainda no colégio, sentiu-se chamado ao sacer­dócio, deixando de lado o desejo de ser agrônomo. Mas como ainda era muito jovem, seu pai buscou ajudar no discernimento e o diretor do colégio o aconselhou a terminar os estudos fundamentais. Finalmente ingressou, em 1936, no Seminário Menor de Natal (RN). Realizou seus estudos de Filosofia e Teologia no Seminário da Prainha, em Fortaleza (CE), no período de 1937 a 1943.

Álbum de família: o menino Eugenio, os pais e o irmão Sílvio

HOMEM DA IGREJA
Foi ordenado presbítero no dia 21 de novembro de 1943, pela imposição das mãos de Dom Marcoli­no Esmeraldo de Sousa Dantas, bispo de Natal, na mesma Igreja onde recebera o batismo, na Paróquia Nossa Senhora da Guia, em Acari. Com apenas 34 anos foi ordenado bispo, o mais jovem do Brasil, no dia 15 de agosto de 1954, em Natal, arquidiocese para qual foi nomeado bispo auxiliar.

Sagração episcopal, aos 34 anos

Escolheu como lema “Impendam et Superim­pendar”, expressão de São Paulo: “De mui boa vontade darei o que é meu, e me darei a mim mesmo pelas vossas almas” (2 Cor 12, 15).
Em 1962 foi nomeado administrador apostó­lico de Natal, e dois anos depois administrador apostólico de Salvador. Em 1968, o então Papa Paulo VI o nomeou arcebispo primaz do Brasil. Em 28 de abril de 1969 foi criado cardeal, pelo Papa Paulo VI.
No dia 13 de março de 1971, o Papa Paulo VI o transferiu da Sé Primacial e o nomeou arce­bispo do Rio de Janeiro, função exercida até 25 de julho de 2001. Embora, ao completar os 75 anos, em 1995, tenha pedido renúncia do cargo, obedecendo ao que está determinado no Código de Direito Canônico, permaneceu até os 80 anos como arcebispo metropolitano, por desejo do Papa João Paulo II.
Participou das sessões do evento eclesial mais importante no século 20, o Concílio Ecumênico Vaticano II, no qual buscou implementar ime­diatamente as ações evangelizadoras discutidas em Roma, mesmo com as dificuldades encontra­das a todo momento.

Dom Eugenio recebeu o barrete cardinalício pelas mãos do Papa Paulo VI, no Consistório de 1969

Desvelou-se ainda mais pela Igreja Universal ao serviço do Papa, quando foi elevado ao car­dinalato, em 1° de maio de 1969. Participou de dois conclaves e fez parte de várias congregações e comissões da Santa Sé. Em 1971 chegou ao Rio de Janeiro, tomando posse como arcebispo em 24 de abril, permanecendo no governo arquidio­cesano por 30 anos.
Tinha uma relação filial com João Paulo II, e dizia que o Papa era um homem generoso e bondoso. Nas duas vezes em que o pontífice veio ao Rio, ele se hospedou em sua casa. Lembrando esses momentos, na entrevista que concedeu ao Testemunho de Fé, classificou-os como sendo os mais emocionantes de sua vida. “Foi uma coisa extraordinária e comovente”, disse.
Durante longos anos, assumiu diversos cargos no Vaticano, todos eles por nomeação direta dos papas da época, como, por exemplo, membro do Conselho Pontifício para as Comunicações Sociais, de 1975 a 1989, e copresidente do Ponti­fício Conselho para a Cultura, entre 1982 e 1988.
Junto ao Conselho Episcopal Latino-Ame­ricano (Celam), o Cardeal Dom Eugenio Sales também desempenhou importantes funções. Coordenou os trabalhos em Mar del Plata, na Argentina, e Itapoá, em Santa Catarina, na preparação para a Assembléia de Medellín, da qual também participou. Foi presidente do Departamento de Ação Social, quando visitou vários países da América Latina, inclusive Cuba; além de participar das Conferências de Puebla, no México, e de Santo Domingo, na República Dominicana.
Na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Eugenio foi secretário do Regional Nordeste, presidente do Secretariado de Opinião Pública e presidente do Departamento de Ação Social. Também foi membro do Conselho Per­manente da Conferência.

BOM PASTOR
Sempre se manteve firme e inabalável em Deus e governou a Igreja no Rio de Janeiro como se fosse sua esposa. Foi para o povo dessa cidade o bom pastor, pois conhecia suas ovelhas, as chamava pelos nomes e as confirmava na fidelidade irrestrita a Deus, à Igreja, à Sé de Pedro e ao Papa.
Sob sua liderança, a arquidiocese viveu dias inesquecíveis: os 300 anos da criação da diocese; a sagração da Catedral de São Sebastião; a primeira visita de João Paulo II e o “Segundo Encon­tro Mundial do Papa com as Famílias”; o evento “Queremos Deus com Maria, mãe de Jesus” que lotaram o Maracanã; as Missões Populares de preparação ao Jubileu do Ano 2000 do nascimento de Jesus Cristo.
Criou o Centro de Estudos e Formação do Sumaré e ampliou o Seminário Arquidiocesano São José. Em 1980, construiu o Edifício João Paulo II, sede da Arquidiocese.

Consagração do altar-mor da Catedral de São Sebastião, em 16 de novembro de 1976

Empreendedor, continuou e concluiu as obras da Catedral de São Sebastião, no Centro, onde hoje funciona o Museu Arquidio­cesano de Arte Sacra, cujas novas instalações foram inauguradas em abril de 2001. O Museu foi montado em 1976, durante as co­memorações dos 300 anos de criação do Bispado do Rio de Janeiro. Também para a Catedral de São Sebastião, Dom Eugenio transferiu e instalou o Arquivo da Cúria Metropolitana.
Preocupado com a Igreja em âmbito institucional, organizou anu­almente para os bispos do Brasil um curso no Centro de Estudos do Sumaré, e na sua primeira edição hospedou o então Cardeal Joseph Ratzinger, hoje Bento XVI, que veio falar ao episcopado brasileiro e, depois, para leigos e religiosos que atuavam na ocasião nas diversas pastorais. O Curso para Bispos eram, e ainda são, momentos de ora­ção, renovação espiritual e atualização nas várias áreas da teologia e dos assuntos eclesiais.

TESTEMUNHA DO AMOR DE DEUS
Dom Eugenio, um homem de fé, homem da Igreja, homem de oração! Enfrentou alegrias e tristezas, trabalhos e adversidades com serenidade, sem hesitar, sempre agindo como um homem de fé, tendo como armas o breviário, o rosário, a confiança em Deus e a promessa de Cristo a Pedro, de que as “portas do inferno jamais sucumbirão à Igreja”.
Conseguiu passar pelas adversidades sempre com esperança, invocando a proteção de São Sebastião e de Sant’ Ana, padroeiros da Arquidiocese do Rio de Janeiro. Contemplava a bondade de Deus e orava diante do Cristo Redentor, que o protegeu em sua vida, e o inspirou em suas ações, pelo bem espiritual da população que vive na cidade do Rio de Janeiro.

FOTOS: ARQUIVO TF