segunda-feira, 23 de julho de 2012

Caridade Social: uma preocupação sempre presente



Dom Eugenio sempre se pre­ocupou em ajudar os pobres a ter uma vida digna, com condições de trabalho, renda e uma organiza­ção para lutar pelos seus direitos. Neste contexto, criou, na Arqui­diocese de Natal, a Campanha da Fraternidade (CF), e incentivou os sindicatos rurais, para poder aju­dar os trabalhadores. Mas sempre fez tudo com discrição.
Suas ações pastorais criativas, voltadas para a caridade social, ins­piraram o seu grande amigo Dom Helder Câmara que, ao fundar a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), há 50 anos, junto com os cardeais Motta e Câmara, buscou formas de colocar em prática as inovações pastorais criadas por Dom Eugenio. Assim, a Campanha da Fraternidade foi assumida pela Conferência e logo se espalhou por todo o Brasil. Atra­vés da CF, assuntos prementes da vida eclesial fo­ram discutidos e trabalhados em todo o país, sempre na bus­ca de soluções melhores para a vida do povo.
A Igreja do Rio viveu esta co m u n h ã o, com fidelidade e silêncio. Na Arquidiocese do Rio, incen­tivou e reali­zou ele mesmo diversas ações sociais. Dentre as muitas ações que foram fei­tas, destaca-se a ação em favor aos moradores da comunidade do Vidigal, que não foram removidos graças à sua intervenção através da Pastoral das Favelas.
Dom Eugenio era visto sem­pre subindo e visitando as pes­soas carentes do Rio de Janeiro, morros e bairros de nossa cidade, sempre levando a Palavra de Deus aos mais pobres e desfa­vorecidos, sem esquecer-se de dialogar com todos os habi­tantes, principalmente com os construtores da sociedade.
Outra ação de destaque em seu ministério episcopal, era a solida­riedade para com os refugiados na América Latina, especialmente os exilados políticos, oferecendo-lhes asilo e proteção. Chegou a receber na arquidiocese cerca de cinco mil pessoas nessas condições.
Também os exilados políticos do Brasil, perseguidos pela ditadu­ra militar, foram por ele acolhidos e protegidos. Muitas vezes levou em seu próprio veículo até o aero­porto aqueles que necessitavam sair do país por problemas polí­ticos. Muitos desses refugiados, quando voltaram ao Rio, fizeram questão de dizer como o arcebispo do Rio agia com energia e ajudava aos que mais precisavam.
“Nunca ninguém veio recla­mar da parte dos militares por eu dar asilo aos exilados políticos, porque eles sabiam que eu não era político, mas que eu era um pastor, estava atendendo aquelas pessoas como pastor. Eu nunca pedi permissão aos militares para agir assim, porque eu agia segun­do a minha consciência de bispo e para agir assim não precisava pedir permissão a ninguém. Esse foi um grande trabalho”, afirmou Dom Eugenio em entrevista ao Testemunho de Fé, em 2006.
Sobre essa atuação de Dom Eugenio, o economista e ex-mi­nistro do Planejamento dos go­vernos Médice e Geisel, durante a ditadura militar, João Paulo dos Reis Veloso, comentou: “Ele sabia conduzir os assuntos para conse­guir os resultados desejados. Ele tinha boas relações com os mi­nistros na época militar, de modo a poder ajudar as pessoas que estavam preci­sando dele. Isto porque era, aci­ma de tudo, um pastor, um arce­bispo, um car­deal que usava as grandes ha­bilidades polí­ticas que tinha para conseguir bons resultados em todas as cir­cunstâncias no regime militar e depois do re­gime militar.”
Todo o ca­risma e aproxi­mação entre o pastor e o povo reverteram-se em boas obras para os fiéis e também para a população exclu­ída, que, aliás, sempre mereceu especial atenção do cardeal, prin­cipalmente através do Banco da Providência, a maior obra social da Arquidiocese do Rio de Janeiro. Hoje, o Banco atua em mais de 40 frentes de trabalho.
Dom Eugenio instalou o Ambulatório da Providência para atendimento a aidéticos, prostitutas, mendigos e outros marginalizados e ainda criou duas casas de acolhida: a Santo Antônio, sob a orientação das Irmãs Filhas de São Camilo, e, a Sagrado Coração de Jesus, sob a direção das Missionárias da Caridade.
Através da Pastoral do Menor, por exemplo, a Arquidiocese do Rio passou a dar atendimento aos meninos de rua, em convênios com os governos federal, estadual, municipal e entidades privadas.
Os trabalhos foram aumentan­do, gradativamente. A população excluída e os fiéis em geral encon­traram grande apoio e assessoria em grupos como a Associação dos Médicos Católicos, a União dos Juristas Católicos, o Grupo de Acompanhamento da Atuação dos Políticos Católicos, todos funda­dos durante a sua gestão.

FOTO: ARQUIVO TF