segunda-feira, 23 de julho de 2012

ACNUR lamenta morte do defensor dos refugiados

O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refu­giados (ACNUR) lamentou a morte do cardeal e arcebispo emérito do Rio de Janeiro, Dom Eugenio de Araujo Sales.
Em sua longa trajetória eclesiástica, o cardeal foi um defensor da causa dos refu­giados, atuando de forma de­cisiva durante os anos 70 e 80 no acolhimento de milhares de pessoas forçadas a deixar seus países durante a vigência de diferentes regimes milita­res no Cone Sul.
Estima-se que a atuação de Dom Eugenio à frente da Arquidiocese do Rio de Janei­ro e da Cáritas Arquidiocesa­na permitiu que aproxima­damente cinco mil pessoas, vindas principalmente da Argentina, Uruguai e Chile, fossem abrigadas temporaria­mente no Rio de Janeiro antes de seguirem para o refúgio na Europa – numa época em que o Brasil também era governa­do sob regime militar.
Em carta encaminhada ao arcebispo do Rio, Dom Orani João Tempesta, o re­presentante do ACNUR no Brasil afirmou que o trabalho evangélico de Dom Eugênio Sales foi “marcado pela fra­ternidade”.
“Ele superou obstáculos para cumprir o que considera­va ser o dever do ser humano: proteger todos os que estão abandonados”, disse Andrés Ramirez.
O representante do AC­NUR disse ainda que Dom Eugenio “será lembrado pelos fiéis devido à sua importância para a Igreja, seu dinamismo social, sua preocupação com o próximo e sua atenção es­pecial aos refugiados de todo o mundo”.
A atuação de Dom Euge­nio Sales em favor da causa dos refugiados se iniciou em 1976, quando começou a ser pessoalmente procurado por jovens dissidentes dos regimes militares no Cone Sul em busca de proteção da Igreja Católica no Brasil. Com o aumento dos casos, ordenou que recursos da Igreja fossem utilizados para o aluguel de apartamentos, onde famílias eram acomo­dadas antes de seguirem rumo a outros países.
Paralelamente, comuni­cou às autoridades militares da época que a Arquidiocese do Rio passaria a receber so­licitantes de refúgio do Cone Sul, evitando que o trabalho fosse interrompido pelo re­gime. Com o apoio posterior do ACNUR, os dissidentes conseguiram refúgio em ou­tros países, principalmente na Europa.
Atualmente, o ACNUR e a Cáritas Arquidiocesana do Rio de Janeiro implementam projetos de assistência, pro­teção e integração de refu­giados no Brasil. Aproxima­damente dois mil refugiados (quase metade da população refugiada no Brasil, estimada em cerca de 4,5 mil pesso­as) são atendidos por esta parceria.

ACNUR BRASIL