sexta-feira, 13 de julho de 2012

Brasil, um país de católicos



O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou, no dia 29 de junho, o resultado do Censo 2010 no que diz respeito à religião do povo brasileiro. Os dados do Censo 2010 mostram maior diversidade religiosa da popula­ção brasileira, mas com perma­nência da maioria de católicos, que somam 64% da população. O restante da população está assim dividida: 22,2% de evan­gélicos, 8% se declaram sem religião, 3% por outros credos e 2% por espíritas.
Durante os dias que se se­guiram, houve diversas re­portagens sobre o tema, nas quais foram deixados de lado importantes dados em nome de uma apressada divulgação da queda do número de católicos, que eram, em 2000, 73,6% da população.
Para o arcebispo do Rio, Dom Orani João Tempesta, os dados em si não apresentam a realidade que a Igreja vive em seu interior. “Nós sabemos a importância que tem a missão de evangelização, da Igreja que evangeliza. Podemos ver hoje que há muito mais participação dos cristãos leigos, de pessoas conscientes de sua fé, assim como o aumento no número de sacerdotes. A Igreja anuncia Jesus Cristo e está presente em todos os lugares do mundo; em alguns países com maior percentual, como no Ocidente, em outros com menor, como no Oriente. O importante é que nós façamos bem a nossa parte em todos os aspectos e saibamos realizar bem a nossa missão”, afirmou.
O presidente da Confe­rência Nacional dos Bispos do Brasil e arcebispo de Apa­recida, Dom Raymundo Da­masceno Assis destacou que, por ter sido uma pesquisa feita por amostragem e não cidadão por cidadão, os da­dos apresentados pelo IBGE se aproximam da realidade, porém não a t raduzem de maneira total e objetiva. “Mas é muito importante lermos os dados e tirarmos conclusões para a nossa ação pastoral, independentemente de con­cordarmos ou não com eles. Precisamos fazer de nossas paróquias verdadeiras redes de comunidades eclesiais, com abertura muito grande para os religiosos, consagrados, mo­vimentos apostólicos e novas comunidades. Fazermos nos­sas paróquias cada vez mais missionárias, impulsionadas a ir ao encontro das pessoas, sobretudo as mais distantes de nossas comunidades, nas periferias”, pontuou.

CONTRADIÇÕES NA APURAÇÃO DOS DADOS
Há de se lembrar, no entanto, que na época da realização do censo, a Igreja no Brasil se ma­nifestou apontando os possíveis erros que poderiam acontecer na tabulação dos dados, devido ao fato de, na pergunta relativa às religiões, haver 27 opções e sub­divisões da religião católica, das quais pelo menos 12 não eram outras igrejas, confissões ou re­ligiões, mas grupos e associações que existem dentro da confissão católica romana.
E não somente a Igreja Cató­lica foi prejudicada. Na ocasião, em um artigo intitulado “Censo e religião: algumas interrogações”, a teóloga Maria Clara Binge­mer, vice-decana do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio, denunciou que a Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil (IECLB), uma das mais importantes denomi­nações protestantes históricas, que representa três quartos dos luteranos brasileiros, se queixava de haver sido excluída das opções do censo. “Em meio a 48 designa­ções com o termo ‘luterano’, não se encontra a IECLB”, afirmou.
No mesmo artigo, Maria Clara alerta para o risco de os resul­tados da pesquisa serem “de­turpados e o censo perder seu objetivo e sua razão de ser, que é apresentar uma radiografia o mais exata possível do povo brasileiro”. “É muito positivo que todas as pertenças religiosas do nosso país apareçam no censo, de maneira que todas as pessoas se encontrem contempladas na medida do possível, mas parece nebulosa a questão do cristianis­mo histórico devido à maneira como são formuladas as pergun­tas. A importância do censo é inegável, porém o quesito religião deixa muito a desejar em termos de clareza e precisão”, escreveu.

ANDRÉIA GRIPP
FOTO: GUSTAVO DE OLIVEIRA