segunda-feira, 23 de julho de 2012

A despedida do Bom Pastor



A missa de exéquias do Car­deal Dom Eugenio de Araujo Sales começou pontualmente às 15h, presidida pelo arcebis­po do Rio, Dom Orani João Tempesta, e concelebrada por seis cardeais, diversos bispos e sacerdotes presentes.
A celebração, realizada na Catedral Metropolitana do Rio de Janeiro, contou com a participação de autoridades como o governador do Estado do Rio de Janeiro, Sérgio Ca­bral Filho, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes e outros representantes da vida políti­ca, legislativa e do judiciário (veja o box).
Participaram ainda religio­sos, leigos e consagrados, re­presentantes de várias confis­sões cristãs e outras religiões, como as de tradição africana, das comunidades judaicas e muçulmana, além de milhares de fiéis que lotaram a catedral.
Também se encontravam presentes familiares de Dom Eugenio, tendo à frente seu irmão caçula, o professor Otto Santana. Vieram do Rio Gran­de do Norte para dar seu adeus ao parente tão querido. Seu outro irmão, Dom Heitor Sales, arcebispo emérito de Natal, estava na Europa, não conseguiu chegar a tempo.
Na homilia, Dom Ora ­ni exaltou que a presença de tantas pessoas ilustres demonstrava uma merecida homenagem às virtudes de Dom Eugenio e ao grande pa­pel que ele desempenhou nos acontecimentos decisivos de sua época.
“Além dos destaques que a justo título a mídia lhe pres­tou, e das mensagens que nos chegam sobre diversos aspec­tos de sua brilhante carreira, que marcou a vida nacional em boa parte do século 20, destacamos aquilo que é ver­dadeiramente sua coroa de glória, como batizado, como sacerdote e como bispo: sua conformidade com Jesus Cris­to. É este o ideal que todos nós, leigos ou clérigos, em qualquer função que sejamos chamados a desempenhar, devemos ter continuamente diante dos olhos e que somos chamados a buscar sem cessar. Será este, também o critério, pelo qual seremos julgados, quando Deus nos chamar. Foi esse o segredo de todas as suas atividades sociais, culturais, religiosas e da incansável fi­delidade à Igreja e à sua dou­trina”, disse.
Dom Orani afirmou que todos aqueles que convive­ram com Dom Eugenio pu­deram perceber a segurança que transparecia dele, o bom pastor que anunciou a verdade e esperava a recompensa que Deus lhe reservava. Lembrou que o cardeal deixou um lega­do múltiplo: social, religioso, evangelizador, de animação vocacional, de luta pela digni­dade humana, de acolhida aos perseguidos políticos e refu­giados, de criação das pastorais e fidelidade a Pedro e seus sucessores e à doutrina da Igre­ja. E concluiu com trechos do testamento de Dom Eugenio, redigido no dia 7 de outubro de 2003 e que foi divulgado na terça-feira, dia 10 de julho.
No final da celebração eu­carística, o governador do Es­tado do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral Filho, deu um depoi­mento tocante sobre a vida de Dom Eugenio destacando sua preocupação política, mas sempre aliada à sua extrema serenidade para conduzir a arquidiocese.
“Dom Eugenio sempre pas­sou para todos nós muita sere­nidade e assumiu o arcebispa­do do Rio num período muito duro da vida nacional, e a pri­meira década foi muito difícil do ponto de vista político. Ele, com a sua expressão e forma de ser, salvou muitas vidas. Em casa, eu sempre ouvi do meu pai isso: a solidariedade de Dom Eugenio. Era um homem muito sereno, muito tranquilo e que amava o Rio”, resumiu o governador do estado.
Após a missa de exéquias aconteceu o sepultamento do Cardeal Sales, às 17h13, na cripta que fica no subsolo da Catedral, próximo à de Dom Jaime de Barros Câmara, seu antecessor na arquidiocese. Foi um momento de muita emoção marcado pela fé e pela plena certeza de que a re­compensa para Dom Eugenio no Céu estava assegurada por sua demonstração de amor a Deus e pela sua fidelidade aos princípios da Igreja. O Bom Pastor retorna finalmente à casa do Pai, retorna para o seu Senhor, a quem consagrou toda a sua vida.

FOTO: GUSTAVO DE OLIVEIRA