quarta-feira, 27 de junho de 2012

O futuro da humanidade na perspectiva da Cáritas




A Cáritas esteve presente du­rante todas as atividades desenvol­vidas durante a Conferência Inter­nacional Rio+20. Tanto no Aterro do Flamengo, no espaço onde aconteceu a Cúpula dos Povos, quanto no Riocentro, onde estava montada a Cúpula Mundial, a Cá­ritas realizou diversas atividades e debates levando os participantes a refletirem sobre a centralidade do ser humano no desenvolvimento sustentável.
Para aprofundar a temática e preparar seus delegados, representantes da Cáritas dos países latino-americanos se reuniram no dia 18 de junho, no auditório do Edifício João Paulo II, sede da Arquidiocese do Rio, na Glória. Na ocasião, refletiram sobre “o futuro na perspectiva da Cáritas”.
A reunião foi presidida por Martina Liebsch, membro da Cáritas Internacional. Foram apresentados os cinco elementos ou dimensões fundamentais, na visão da entidade, para o desenvolvimento humano: um futuro sem fome, o compromisso com os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), um futuro de cuidados com a criação, o novo marco econômico “verde” e um novo contrato social, marcado pelo respeito aos homens e mulheres criados à imagem de Deus.
A primeira dimensão, um futuro sem fome, foi explicitada por Yuri Munsayac, da Cáritas Fi­lipinas: “Conclamamos os líderes para fazer da luta contra a fome uma prioridade, e assegurar o di­reito à alimentação. A alimentação é a base para desenvolver nossas capacidades e talentos. Uma população com fome não pode contribuir totalmente para o bem de suas comunidades nem de suas famílias. Estamos desperdiçando importantes recursos humanos, que são essenciais para a saúde do nosso planeta. A única fome que deveríamos sofrer é a fome de jus­tiça, equidade, sustentabilidade ecológica e corresponsabilidade”.
O membro da Cáritas Espanhola, Martin Lago, falou sobre a segunda dimensão, um futuro com visão contida no documento Objetivos de Desenvolvimento do Milênio: “É preciso que haja compromisso dos lideres para aplicá-los. É importante aprofundar o sentido desses objetivos com as pessoas mais afetadas, adaptando-os às necessidades de hoje. Além disso, é essencial que um marco renovado de tais objetivos contenha compromissos por parte dos países desenvolvidos para que se envolvam na promoção de um modelo de desenvolvimento a favor do bem estar de toda a humanidade, priorizando a justiça, a equidade, a sustentabilidade ecológica e a corresponsabilidade”.
Lorenzo Figueroa Leon, mem­bro da Cáritas Chile, discursou sobre “um futuro de cuidados com a nossa casa, a criação”, terceira dimensão fundamental para o desenvolvimento humano na visão de Cáritas: “Conclamamos a que a capacidade transforma­dora do ser humano seja utilizada para o cuidado da criação e se incentivem ativamente projetos, ideias e medidas que cuidem do ambiente. Nossos ambientes de vida, sejam eles rurais ou urba­nos, devem caracterizar-se por uma vida digna e sã com máxima sustentabilidade ecológica. O foco de conquista e de exploração dos recursos naturais tem predomina­do e se estendido, ameaçando hoje a própria capacidade de acolhida do meio ambiente: o ambiente como ‘recurso’ coloca em perigo o ambiente como ‘casa’ ”.
A quarta dimensão, que versou sobre o novo marco econômico “verde”, foi apresentada por Ade­mar Bertucci, membro da Cáritas Brasileira: “A Cáritas apoia a ideia de uma economia verde, desde que respeite princípios éticos, de equi­dade e solidariedade. Defendemos que a construção de uma visão de economia ‘verde’ não substitua, nem deixe de fora, as premissas correspondentes ao desenvolvi­mento humano, integral e susten­tável construídas há décadas. O novo marco econômico não deve centralizar-se na maximização de benefícios, mas deve favorecer o trabalho digno, dando esperança sobretudo aos milhares de jovens que estão sem trabalho”.
Para falar sobre a quinta di­mensão, “um futuro que respeite as mulheres e homens”, foi dada a palavra a Martina Liebsch: “De­fendemos o desenvolvimento de um código de conduta para uma cidadania global solidária. Isto significa definir um novo contrato social que leve em conta nossa in­terdependência e convoque a atuar como cidadãos responsáveis pelo bem comum. Todos somos consu­midores dos produtos da criação e, como sujeitos responsáveis, pode­mos optar por maneiras de viver que favoreçam o desenvolvimento, cuidem do meio ambiente e redu­zam os efeitos negativos para os mais pobres. Por isso, propomos um modelo econômico que inclua dinâmicas de democracia parti­cipativa e promova a dignidade humana, o desenvolvimento hu­mano sustentável e a distribuição da riqueza. Clamamos a todas as pessoas de boa vontade para que estabeleçam uma cultura de res­peito e de diálogo que possibilite o acesso aos direitos e à justiça”.

ANDRÉIA GRIPP
FOTOS: CARLOS MOIOLI