segunda-feira, 28 de maio de 2012

Santa Joana D’Arc: amor à Igreja até o fim



No dia 30 de maio a Igreja celebrará Santa Joana D’Arc, a padroeira da França, que é citada muitas vezes no Catecismo da Igreja Católica. Nascida em 6 de janeiro de 1412, na pequena cida­de de Domrémy, uma pequena vila situada na fronteira entre França e Lorena, morreu aos 19 anos, queimada numa fogueira, na cidade de Rouen, em 1431.
A memória desta mártir está sendo particularmente lembrada neste ano. Desde janeiro a Igreja na França realiza uma intensa programação para celebrar os 600 anos do nascimento de sua padroeira. As comemorações tiveram como ponto alto uma missa realizada no dia 13 de maio, na Basílica de Domrémy, presidida pelo arcebispo de Pa­ris, Cardeal André Vingt-Trois. Também nesse dia houve uma cerimônia diante da casa onde Joana D’Arc nasceu.
As comemorações terminarão em junho, na cidade de Rouen, entre os dias 28 e 29, quando será realizado um festival diocesano, com a participação do presidente do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-Religioso, Cardeal Jean-Louis Tauran.

A HISTÓRIA
Santa Joana D’Arc era filha de Jacques D’Arc e Isabelle Ro­mée. Quando nasceu, em 1412, a França sofria há 75 anos pelos combates na Guerra dos Cem Anos contra a Inglaterra. Era uma camponesa, analfabeta, caçula de cinco filhos. Segundo relatos históricos, era uma crian­ça piedosa. Aos 13 anos experi­mentou a primeira de suas visões sobrenaturais, que ela descreveu como uma voz acompanhada por um clarão de luz. Com o passar do tempo ela identificou as vozes que ouvia como sendo de São Miguel, Santa Catarina e Santa Margarida.
O que diziam para ela as vo­zes? No começo, as mensagens eram pessoais. Depois, veio a ordem suprema: em maio de 1428, aos 17 anos, recebeu de São Miguel, Santa Catarina e Santa Margarida a ordem de ir ao encontro do rei da França e ajudá-lo a reconquistar seu reino. Isto porque, em 1337, o rei Eduardo III da Inglaterra, reivindicando para si o trono da França, desencadeou a Guerra dos Cem Anos. Enfraquecidos por fatores de ordem moral e religiosa, além de discórdias internas, os franceses sofreram reveses sucessivos. Em 1420 foram obrigados a assinar o hu­milhante Tratado de Troyes, em consequência do qual o rei da França perdeu o trono em favor do rei da Inglaterra. Assim, a nação francesa caminhava para o seu fim.
Após uma longa viagem e muitas dificuldades, a cam­ponesa de Domrémy chegou à corte no dia 6 de março de 1429. Depois de submetê-la a inúmeras provas, o futuro rei da França, Carlos VII, resolveu ouvir o que a camponesa de Domrémy tinha a lhe dizer. A proposta que ela levava era de uma verdadeira paz e justiça entre os povos cristãos, à luz dos nomes de Jesus e Maria. Esta proposta foi rejeitada e Joana, então, se engajou na luta pela libertação de seu país, em 8 de maio de 1429.
Joana vive durante a guerra com os soldados, levando a eles uma verdadeira evangelização. Venceu importantes batalhas e conseguiu cumprir a sua mis­são de conduzir ao trono o rei Carlos VII.
Em 1430, ela é presa por seus inimigos, que a submeteram a um julgamento fraudulento, acusada de heresia e bruxaria, pois atribuíram suas vitórias a um acordo com os espíritos malignos. Não lhe foi dado um defensor, mas ela, assistida pelo Espírito Santo, defendeu-se com tanta segurança e sabedoria que deixou pasmos tanto os acusa­dores quanto os juízes. Apesar disso, foi condenada à morte na fogueira, pena que foi cumpri­da no dia 30 de maio de 1431.
Na manhã desse dia, recebe pela última vez a Comunhão na prisão e, em seguida, foi condu­zida à praça do velho mercado. Pediu a um dos sacerdotes para manter diante dela um crucifixo e, assim, morreu olhando Jesus Crucificado, e pronunciou mui­tas vezes e em voz alta o nome de Jesus.
Em 1453, após a batalha de Castillon, os ingleses foram to­talmente expulsos do reino da França. Em 1456, um inquérito judicial realizado por ordem do rei teve como resultado a de­claração da inocência de Joana d’Arc. Foi beatificada por São Pio X em 1909, e canonizada por Bento XV em 1920.

A ESPIRITUALIDADE DE JOANA D’ARC
O que Joana tem a dizer aos cristãos do século 21? A resposta foi dada pelo Papa Bento XVI em 26 de janeiro de 2011, durante sua catequese semanal. O Pon­tífice indicou Joana D’Arc como exemplo de “medida alta da vida cristã”, porque fez da oração o fio condutor dos seus dias; teve plena confiança no cumprimento da vontade de Deus, qualquer que ela fosse; e viveu a caridade sem favoritismos e sem limites.
“Através das próprias palavras de Joana, sabemos que a vida religiosa dela era madura. Nu­merosos foram os testemunhos em relação a sua bondade, a sua coragem e a sua extraordinária pureza”, afirmou Bento XVI.
O abandono de sua vontade para aderir livre e incondicional­mente à vontade de Deus, aos 13 anos de idade, deve inspirar os jovens católicos. “Ela afirmava com total confiança e abandono: ‘Confio em Deus criador, o amo com todo meu coração’. Um dos textos mais conhecidos do primeiro processo ao qual foi submetida se refere a isto: Inter­rogada, ela se diz estar na graça de Deus e responde: ‘Se não estou, Deus me queira colocar, se estou, Deus me queira guardar nesta’ (cf. Catecismo da Igreja Catolica - CIC, nº 2005)”, destacou o Papa.
O Pontífice apontou Joana como modelo para todos os que buscam cultivar a vida de oração. “A nossa santa viveu a oração na forma de um diálogo contínuo com o Senhor, que iluminava o seu diálogo com os juízes que a interrogaram, o que lhe dava paz e segurança. Ela pediu com confiança: ‘Doce Jesus, em honra da vossa santa paixão vos peço: se Vós me amais, revela-me como devo responder a estes homens da Igreja’”, escreveu em sua mensagem.
Bento XVI conta que Jesus foi contemplado por Joana como o “rei do céu e da terra”. Por isso, sobre o seu estandarte, Joana fez com que pintassem a imagem de Nosso Senhor que segura o mundo. Este foi o ícone da sua missão política.
Neste sentido, afirma o pon­tífice, Joana D’Arc tornou-se também um exemplo para os políticos católicos. “Ela compre­endeu que o amor abraça toda a realidade de Deus e do homem, do céu e da terra, da Igreja e do mundo. A libertação do seu povo foi uma obra de justiça humana, que Joana cumpriu na caridade, por amor a Jesus, que esteve sempre em primeiro lugar na sua vida, segundo a sua bela expressão: ‘Nosso Senhor deve ser servido primeiro’. Amá-lo significa, para Joana, obedecer sempre a sua vontade”, frisou.
Outro ponto da espirituali­dade de Joana destacado pelo Papa Bento XVI diz respeito ao seu amor incondicional à Igreja: “Segundo as suas palavras, é uma única coisa Jesus e a Igreja. Esta afirmação, citada no CIC nº 795, tem um caráter verdadeiramente heroico no contexto do processo de condenação diante aos seus juízes homens da Igreja, que a perseguiram e a condenaram. No amor de Jesus, Joana encon­tra força de amar a Igreja até o fim, também no momento da condenação”.

TERESINHA E JOANA
A vida de Joana D’Arc in­f luencia cristãos em todo o mundo. Entre seus devotos, uma se destaca: Santa Teresinha do Menino Jesus. Lembrando o amor de Teresa por Joana, o Papa Bento XVI relata em sua mensagem que “em uma vida completamente diversa, que se desenvolveu na clausura, a car­melita de Lisieux se sentia muito próxima a Joana, vivendo no coração da Igreja e participando dos sofrimentos de Cristo pela salvação do mundo”.
É ainda Bento XVI que conta fatos relevantes que mostram o grande amor e admiração de Teresinha a Joana: “Em 21 de janeiro de 1894, Teresinha com­pôs a peça teatral intitulada ‘A Missão de Joana D’Arc’. No ano seguinte, associando-se às festas celebradas em todo o país em honra da santa guerreira e mártir, declarada naquela época ‘venerá­vel’ pelo Papa Leão XIII, compôs outra peça: ‘Joana d’Arc cumpre sua missão’, representada para toda sua comunidade religiosa. Na ocasião, Teresa encenou o papel de Joana D’Arc. Sua peça realçava a tomada da cidade de Orleans, a sagração do rei Carlos VII, mas, sobretudo, a morte na fogueira, que para ela significava o ápice da realização da missão de Santa Joana d’Arc.
Também compôs um cântico para obter a canonização da Vir­gem de Orleans. Ao final desse cântico assinou: ‘Um soldado francês defensor da Igreja, admi­rador de Joana D’Arc’. Santa Tere­sinha não viu Joana canonizada. E esteve longe de imaginar que o Papa Pio XI haveria de apresentar ela [Teresinha] ao mundo católi­co como ‘uma nova Joana d’Arc’ (em 18 de maio de 1925), e que, no decurso da 2ª Guerra Mun­dial, Pio XII a declararia ‘patrona secundária de toda a França’.”

ANDRÉIA GRIPP
IMAGEM: REPRODUÇÃO