No dia 30 de maio a Igreja celebrará Santa Joana D’Arc, a
padroeira da França, que é citada muitas vezes no Catecismo da Igreja Católica.
Nascida em 6 de janeiro de 1412, na pequena cidade de Domrémy, uma pequena
vila situada na fronteira entre França e Lorena, morreu aos 19 anos, queimada
numa fogueira, na cidade de Rouen, em 1431.
A memória desta mártir está sendo particularmente lembrada
neste ano. Desde janeiro a Igreja na França realiza uma intensa programação
para celebrar os 600 anos do nascimento de sua padroeira. As comemorações
tiveram como ponto alto uma missa realizada no dia 13 de maio, na Basílica de
Domrémy, presidida pelo arcebispo de Paris, Cardeal André Vingt-Trois. Também
nesse dia houve uma cerimônia diante da casa onde Joana D’Arc nasceu.
As comemorações terminarão em junho, na cidade de Rouen,
entre os dias 28 e 29, quando será realizado um festival diocesano, com a
participação do presidente do Pontifício Conselho para o Diálogo
Inter-Religioso, Cardeal Jean-Louis Tauran.
A HISTÓRIA
Santa Joana D’Arc era filha de Jacques D’Arc e Isabelle Romée.
Quando nasceu, em 1412, a
França sofria há 75 anos pelos combates na Guerra dos Cem Anos contra a
Inglaterra. Era uma camponesa, analfabeta, caçula de cinco filhos. Segundo
relatos históricos, era uma criança piedosa. Aos 13 anos experimentou a
primeira de suas visões sobrenaturais, que ela descreveu como uma voz
acompanhada por um clarão de luz. Com o passar do tempo ela identificou as
vozes que ouvia como sendo de São Miguel, Santa Catarina e Santa Margarida.
O que diziam para ela as vozes? No começo, as mensagens
eram pessoais. Depois, veio a ordem suprema: em maio de 1428, aos 17 anos, recebeu
de São Miguel, Santa Catarina e Santa Margarida a ordem de ir ao encontro do
rei da França e ajudá-lo a reconquistar seu reino. Isto porque, em 1337, o rei
Eduardo III da Inglaterra, reivindicando para si o trono da França, desencadeou
a Guerra dos Cem Anos. Enfraquecidos por fatores de ordem moral e religiosa,
além de discórdias internas, os franceses sofreram reveses sucessivos. Em 1420
foram obrigados a assinar o humilhante Tratado de Troyes, em consequência do
qual o rei da França perdeu o trono em favor do rei da Inglaterra. Assim, a
nação francesa caminhava para o seu fim.
Após uma longa viagem e muitas dificuldades, a camponesa de
Domrémy chegou à corte no dia 6 de março de 1429. Depois de submetê-la a
inúmeras provas, o futuro rei da França, Carlos VII, resolveu ouvir o que a
camponesa de Domrémy tinha a lhe dizer. A proposta que ela levava era de uma
verdadeira paz e justiça entre os povos cristãos, à luz dos nomes de Jesus e
Maria. Esta proposta foi rejeitada e Joana, então, se engajou na luta pela
libertação de seu país, em 8 de maio de 1429.
Joana vive durante a guerra com os soldados, levando a eles
uma verdadeira evangelização. Venceu importantes batalhas e conseguiu cumprir a
sua missão de conduzir ao trono o rei Carlos VII.
Em 1430, ela é presa por seus inimigos, que a submeteram a
um julgamento fraudulento, acusada de heresia e bruxaria, pois atribuíram suas
vitórias a um acordo com os espíritos malignos. Não lhe foi dado um defensor,
mas ela, assistida pelo Espírito Santo, defendeu-se com tanta segurança e
sabedoria que deixou pasmos tanto os acusadores quanto os juízes. Apesar
disso, foi condenada à morte na fogueira, pena que foi cumprida no dia 30 de
maio de 1431.
Na manhã desse dia, recebe pela última vez a Comunhão na
prisão e, em seguida, foi conduzida à praça do velho mercado. Pediu a um dos
sacerdotes para manter diante dela um crucifixo e, assim, morreu olhando Jesus
Crucificado, e pronunciou muitas vezes e em voz alta o nome de Jesus.
Em 1453, após a batalha de Castillon, os ingleses foram totalmente
expulsos do reino da França. Em 1456, um inquérito judicial realizado por ordem
do rei teve como resultado a declaração da inocência de Joana d’Arc. Foi
beatificada por São Pio X em 1909, e canonizada por Bento XV em 1920.
A ESPIRITUALIDADE DE JOANA D’ARC
O que Joana tem a dizer aos cristãos do século 21? A
resposta foi dada pelo Papa Bento XVI em 26 de janeiro de 2011, durante sua
catequese semanal. O Pontífice indicou Joana D’Arc como exemplo de “medida
alta da vida cristã”, porque fez da oração o fio condutor dos seus dias; teve
plena confiança no cumprimento da vontade de Deus, qualquer que ela fosse; e
viveu a caridade sem favoritismos e sem limites.
“Através das próprias palavras de Joana, sabemos que a vida
religiosa dela era madura. Numerosos foram os testemunhos em relação a sua
bondade, a sua coragem e a sua extraordinária pureza”, afirmou Bento XVI.
O abandono de sua vontade para aderir livre e incondicionalmente
à vontade de Deus, aos 13 anos de idade, deve inspirar os jovens católicos.
“Ela afirmava com total confiança e abandono: ‘Confio em Deus criador, o amo
com todo meu coração’. Um dos textos mais conhecidos do primeiro processo ao
qual foi submetida se refere a isto: Interrogada, ela se diz estar na graça de
Deus e responde: ‘Se não estou, Deus me queira colocar, se estou, Deus me
queira guardar nesta’ (cf. Catecismo da Igreja Catolica - CIC, nº 2005)”,
destacou o Papa.
O Pontífice apontou Joana como modelo para todos os que buscam
cultivar a vida de oração. “A nossa santa viveu a oração na forma de um diálogo
contínuo com o Senhor, que iluminava o seu diálogo com os juízes que a
interrogaram, o que lhe dava paz e segurança. Ela pediu com confiança: ‘Doce
Jesus, em honra da vossa santa paixão vos peço: se Vós me amais, revela-me como
devo responder a estes homens da Igreja’”, escreveu em sua mensagem.
Bento XVI conta que Jesus foi contemplado por Joana como o
“rei do céu e da terra”. Por isso, sobre o seu estandarte, Joana fez com que
pintassem a imagem de Nosso Senhor que segura o mundo. Este foi o ícone da sua
missão política.
Neste sentido, afirma o pontífice, Joana D’Arc tornou-se
também um exemplo para os políticos católicos. “Ela compreendeu que o amor
abraça toda a realidade de Deus e do homem, do céu e da terra, da Igreja e do
mundo. A libertação do seu povo foi uma obra de justiça humana, que Joana
cumpriu na caridade, por amor a Jesus, que esteve sempre em primeiro lugar na
sua vida, segundo a sua bela expressão: ‘Nosso Senhor deve ser servido
primeiro’. Amá-lo significa, para Joana, obedecer sempre a sua vontade”,
frisou.
Outro ponto da espiritualidade de Joana destacado pelo Papa
Bento XVI diz respeito ao seu amor incondicional à Igreja: “Segundo as suas
palavras, é uma única coisa Jesus e a Igreja. Esta afirmação, citada no CIC nº
795, tem um caráter verdadeiramente heroico no contexto do processo de
condenação diante aos seus juízes homens da Igreja, que a perseguiram e a
condenaram. No amor de Jesus, Joana encontra força de amar a Igreja até o fim,
também no momento da condenação”.
TERESINHA E JOANA
A vida de Joana D’Arc inf luencia cristãos em todo o mundo.
Entre seus devotos, uma se destaca: Santa Teresinha do Menino Jesus. Lembrando
o amor de Teresa por Joana, o Papa Bento XVI relata em sua mensagem que “em uma
vida completamente diversa, que se desenvolveu na clausura, a carmelita de
Lisieux se sentia muito próxima a Joana, vivendo no coração da Igreja e
participando dos sofrimentos de Cristo pela salvação do mundo”.
É ainda Bento XVI que conta fatos relevantes que mostram o
grande amor e admiração de Teresinha a Joana: “Em 21 de janeiro de 1894,
Teresinha compôs a peça teatral intitulada ‘A Missão de Joana D’Arc’. No ano
seguinte, associando-se às festas celebradas em todo o país em honra da santa
guerreira e mártir, declarada naquela época ‘venerável’ pelo Papa Leão XIII,
compôs outra peça: ‘Joana d’Arc cumpre sua missão’, representada para toda sua
comunidade religiosa. Na ocasião, Teresa encenou o papel de Joana D’Arc. Sua
peça realçava a tomada da cidade de Orleans, a sagração do rei Carlos VII, mas,
sobretudo, a morte na fogueira, que para ela significava o ápice da realização
da missão de Santa Joana d’Arc.
Também compôs um cântico para obter a canonização da Virgem
de Orleans. Ao final desse cântico assinou: ‘Um soldado francês defensor da
Igreja, admirador de Joana D’Arc’. Santa Teresinha não viu Joana canonizada.
E esteve longe de imaginar que o Papa Pio XI haveria de apresentar ela
[Teresinha] ao mundo católico como ‘uma nova Joana d’Arc’ (em 18 de maio de
1925), e que, no decurso da 2ª Guerra Mundial, Pio XII a declararia ‘patrona
secundária de toda a França’.”
ANDRÉIA GRIPP
IMAGEM: REPRODUÇÃO