segunda-feira, 28 de maio de 2012

Prevenção da anencefalia



“O consumo de ácido fólico antes da concepção e, especial­mente, no primeiro trimestre da gestação, pode prevenir os defeitos do tubo neural”, afirmou o diácono e médico obstetra Vinicius Nelson Garcia de Souza. Segundo ele, diante da recente aprovação do aborto de crianças com anencefalia, por oito ministros do Supre­mo Tribunal Federal (STF), é preciso investir na prevenção para defender a vida e não re­gulamentar a morte.
Segundo o obstetra, entre as causas da doença, estão: nutrição deficiente, genética não mendeliana e fatores am­bientais (Mitchell, 2005), uso de drogas ou de medicamen­tos anticonvulsivantes. “Estes defeitos começam a ocorrer no desenvolvimento fetal entre os 16º e 26º dias, portanto logo que a mulher ‘descobre’ que está grávida, porque a concepção ocorre no meio do ciclo ante­rior à falta menstrual. Por isso é válido começar o uso deste ácido, também conhecido como vitamina B9 ou folato, quando se quer engravidar, ou mesmo em todas as mulheres em idade fértil. A dose de prevenção seria de 0,4 mg por dia”, informou o médico.
O ácido fólico é encontrado no gérmen de trigo; feijão; ervi­lha, verduras, como espinafre, couve e brócolis; ovo cozido; batata cozida com casca; carne vermelha; salmão; frutas cítri­cas, como laranja, tangerina, limão e acerola.
Vinicius afirmou que, em­bora nem todos os casos de anencefalia, espinha bíf ida (quando a medula espinhal não se fecha por completo), lábio le­porino e lesões cardíacas sejam por falta do ácido fólico (Greene e Copp, 2005), é importante saber que seu uso nos primeiros três meses, mesmo antes de en­gravidar, reduz a quase 70% os riscos de ter esses problemas.
“Mulheres em regime de emagrecimento, sem controle médico, ou desnutridas são mais propensas a lesões do tubo neural. Mães diabéticas, ou muito jovens, ou de idade avançada podem apresentar riscos de malformações, e, portanto, devem ser acom­panhadas com especial zelo em seu tratamento pré-natal ou mesmo pré-gestacional, o que, infelizmente, ainda não ocorre em nosso país”, alertou o obstetra.
Segundo o obstetra, a inci­dência de anencefalia ocorre em cerca de quatro bebês em 10 mil nascituros. “Esse número pode ser discutido, já que em muitas destas gestações ocorre o aborto natural”, disse Vinicius.
O médico destacou que o termo anencefalia leva a pensar que haja total ausência do encé­falo, o que não é verdadeiro, e que a etimologia adequada deve ser meroanencefalia, porque as crianças que sofrem dessa de­ficiência têm parte do cérebro preservado, o que permite a sobrevida após o parto, por um período indeterminado. Exis­tem crianças com anencefalia que têm mais de dois anos de vida, como o caso da menina Vitória de Cristo, em São Paulo.
O professor da Faculdade de Ciências Médicas da Uerj Ro­dolfo Acatauassu reforçou que, diferente dos argumentos utili­zados pelo STF, existe a possibi­lidade de vida extra-uterina. “A criança com anencefalia pode respirar, chorar, movimentar­-se, deglutir e ir para sua casa com seus familiares”, disse.
Ele afirmou que a tese da Arguição de Descumprimen­to de Preceito Fundamental (ADPF)nº 54, ajuizada no Su­premo pela Confederação Na­cional dos Trabalhadores na Saúde (CNTS), não encontra respaldo na literatura médica, e qualquer ponto que mexa na legislação do aborto é sempre resolvido por parte das vias legislativas. “Naturalmente, nós somos sempre a favor da preservação da vida e do tra­tamento médico das crianças que têm as malformações con­gênitas. Jamais devemos ir pelo caminho da eliminação pela morte dessas crianças”, disse Rodolfo.

CLÁUDIA BRITO
FOTO: MARISA ALARCOM / CHEIRODEPIMENTA.BLOGSPOT.COM