Respeitar o direito da minoria não significa ignorar a
opinião da maioria. O argumento, que expõe o entendimento de um Estado
democrático, é defendido por líderes religiosos, professores, pais e alunos
que desejam que o Ensino Religioso (ER) seja implantado de forma facultativa
nas escolas de turno integral da Rede Municipal do Rio de Janeiro, a partir do
segundo semestre deste ano.
“Os professores aprovados no concurso serão credenciados e
preparados durante o mês de julho para que as aulas comecem em agosto. Como o ER vai
ser realizado em turmas de turno integral, não mexerá na grade curricular e
não concorrerá com nenhuma outra disciplina”, garantiu o bispo animador do
Ensino Religioso nas Escolas, Dom Nelson Francelino Ferreira.
O bispo acrescentou que o desejo e o apelo de uma grande
porcentagem de pais não podem ser recusados por um grupo minoritário. “Um
Estado democrático respeita a opinião da maioria da população. A religião não
é um detalhe, mas um elemento essencial na vida humana, e deve acompanhar o
desenvolvimento intelectual das crianças”, alertou.
Para o diretor do Dere (Departamento de Ensino Religioso)
nas Escolas Públicas da Omebe (Ordem dos Ministros Evangélicos no Brasil e
Exterior), pastor Francisco Nery, o ER tem uma função essencial e
civilizatória, que prioriza a dimensão da transcendência do ser humano.
“As escolas não devem formar meramente técnicos. O conhecimento
científico é importantíssimo, mas os valores transcendentes precisam ser
respeitados, conhecidos e aprofundados. O ER ocupa uma função primordial porque
trabalha com valores humanos e eternos”, disse.
O líder evangélico ressaltou que no ER o ser humano é entendido
de forma holística, em sua totalidade e integralidade. “Através do ensino
religioso se inicia um processo de autoconhecimento que vai gerar frutos de
compaixão e entendimento, não só em relação aos outros seres humanos, mas à
criação como um todo. O pensamento ecológico é contemplado com o ER”, destacou
pastor Francisco.
A vice-primaz do Primado de Umbanda, professora Darlene Ribeiro,
acrescentou que o ER pode diminuir a incidência de bullying nas escolas. “O
ensino religioso tem muito a contribuir para a melhoria do cidadão, porque toda
religião prega a moral, fala em Deus e sobre a importância do respeito ao
próximo”, disse.
Ela acredita que diante da reflexão sobre a sua própria
religião ou até a ausência de religião, o aluno aprende a conviver com o
diferente. “Ele vai ter consciência de que o mundo é plural. A importância do
ER é que o aluno aprende a respeitar o seu próximo”, avaliou.
ENSINO RELIGIOSO PRECISA SER PLURAL E CONFESSIONAL
Para Dom Nelson, um Estado laico é aquele que acolhe várias
visões religiosas, mas não é um estado ateu ou que privilegia as pessoas sem
religião, e onde o governo interfere na opção religiosa de seu povo. “O Brasil
é um país laico, mas não pode ignorar a questão religiosa e cultural que marca
a sua história. Percebemos que existem algumas pessoas que querem difundir um
conceito de ateísmo e de aversão à religião, mas isso não procede, sobretudo em
um município onde o número de pessoas religiosas é muito grande”, afirmou.
Os líderes religiosos concordam que o ER precisa ser plural
e confessional, e que as aulas não podem ser dadas de forma superficial e,
muitas vezes, tendenciosa, para não gerar proselitismo. “No ensino confessional
cada credo tem a oportunidade de se expressar. Não podemos esquecer que, quando
um único professor fala sobre várias religiões na sala de aula, sempre haverá
um dado tendencioso”, disse a professora Darlene.
O pastor Francisco informou que o Dere tem um manifesto em
defesa do ensino religioso confessional, que pode ser encontrado no blog
www.omebe-dere.blogspot.com.br.
“Se estamos em
um Estado democrático de direito, a lei deve ser respeitada,
para o fortalecimento da democracia. O ER não pode ser comparado a outras
instâncias de conhecimento. História das religiões pertence ao campo da
história, fenomenologia pertence ao campo da filosofia e ensino religioso é
prerrogativa das religiões. Assim como existem colégios confessionais
particulares, os alunos de escolas públicas também devem ter o direito de optar
por um ensino religioso confessional em uma escola pública”, concluiu o
pastor.
CLÁUDIA BRITO
FOTO: SXC.HU