Em sua longa trajetória eclesiástica, o cardeal foi um
defensor da causa dos refugiados, atuando de forma decisiva durante os anos
70 e 80 no acolhimento de milhares de pessoas forçadas a deixar seus países
durante a vigência de diferentes regimes militares no Cone Sul.
Estima-se que a atuação de Dom Eugenio à frente da Arquidiocese
do Rio de Janeiro e da Cáritas Arquidiocesana permitiu que aproximadamente
cinco mil pessoas, vindas principalmente da Argentina, Uruguai e Chile, fossem
abrigadas temporariamente no Rio de Janeiro antes de seguirem para o refúgio
na Europa – numa época em que o Brasil também era governado sob regime
militar.
Em carta encaminhada ao arcebispo do Rio, Dom Orani João
Tempesta, o representante do ACNUR no Brasil afirmou que o trabalho evangélico
de Dom Eugênio Sales foi “marcado pela fraternidade”.
“Ele superou obstáculos para cumprir o que considerava ser
o dever do ser humano: proteger todos os que estão abandonados”, disse Andrés
Ramirez.
O representante do ACNUR disse ainda que Dom Eugenio “será
lembrado pelos fiéis devido à sua importância para a Igreja, seu dinamismo
social, sua preocupação com o próximo e sua atenção especial aos refugiados de
todo o mundo”.
A atuação de Dom Eugenio Sales em favor da causa dos
refugiados se iniciou em 1976, quando começou a ser pessoalmente procurado por jovens dissidentes dos regimes militares no Cone Sul em busca de
proteção da Igreja Católica no Brasil. Com o aumento dos casos, ordenou que
recursos da Igreja fossem utilizados para o aluguel de apartamentos, onde
famílias eram acomodadas antes de seguirem rumo a outros países.
Paralelamente, comunicou às autoridades militares da época
que a Arquidiocese do Rio passaria a receber solicitantes de refúgio do Cone
Sul, evitando que o trabalho fosse interrompido pelo regime. Com o apoio
posterior do ACNUR, os dissidentes conseguiram refúgio em outros países,
principalmente na Europa.
Atualmente, o ACNUR e a Cáritas Arquidiocesana do Rio de
Janeiro implementam projetos de assistência, proteção e integração de refugiados
no Brasil. Aproximadamente dois mil refugiados (quase metade da população
refugiada no Brasil, estimada em cerca de 4,5 mil pessoas) são atendidos por
esta parceria.
ACNUR BRASIL