O Alto Comissário da ONU para Refugiados (Acnur), António
Guterres, com sua comitiva, esteve durante a Rio+20 em visita à Arquidiocese
do Rio. No dia 19 de junho, teve um encontro particular com o arcebispo Dom
Orani João Tempesta, e com o coordenador da Cáritas Arquidiocesena, Antônio
Feliciano da Ponte Neto.
O encontro foi motivado pela celebração, no dia seguinte, do
Dia Mundial do Refugiado. Isto porque, no Brasil, a Arquidiocese do Rio é uma
importante parceira da ONU no acolhimento e acompanhamento de refugiados.
“Temos uma gratidão e apreço pela ação da Cáritas e todo o
conjunto de outras organizações do estado civil ligadas à Igreja no Rio de
Janeiro, que são um pilar fundamental na proteção aos refugiados e na
assistência aos mesmos, trabalhando por sua integração harmoniosa no território
brasileiro. Esse trabalho é admirável. Sem ele nós não poderíamos exercer nosso
mandato e eu quis vir precisamente à arquidiocese para exprimir ao senhor
arcebispo nossa gratidão e nosso apreço”, afirmou Guterres.
DESLOCAMENTOS EM 2011 ATINGIRAM RECORDE
Segundo o relatório lançado no dia 18 de junho pelo Acnur, o
ano de 2011 registrou um número recorde de deslocamentos forçados entre
fronteiras internacionais: 800 mil pessoas.
Somando-se ao número de refugiados já existentes, a ONU
revela que, ao final de 2011, no total 42,5 milhões de indivíduos terminaram o
ano numa situação de refúgio. “Infelizmente o que tivemos foi uma multiplicação
de conflitos em nível mundial, que proporcionaram um aumento significativo do
número de deslocados, com gravíssimas conseqüências para o sofrimento das
pessoas”, disse o Alto Comissário da ONU para Refugiados.
Para agravar ainda mais a situação, nem todos os 42,5
milhões de refugiados estão sob o mandato do Acnur. Apenas 25,9 deles são
assistidos pela ONU e por suas entidades parceiras, como a Cáritas. “A ação
humanitária tem hoje uma dificuldade enorme em atender a grande demanda de
refugiados. Também sofremos restrições ao nosso trabalho, impostas por alguns
estados. E isso, sem dúvida, aumenta em muito o sofrimento dessas pessoas”,
pontuou Guterrez.
O Brasil é apontado pelo Alto Comissário como um dos maiores
parceiros do Acnur, pois, além de possuir uma tradição acolhedora, conta com
uma legislação avançada em termos humanitários para com os refugiados.
Segundo a assessoria de imprensa do Acnur, no país
atualmente residem 4,5 mil refugiados, de 77 nacionalidades. Destes, 2.687, de
54 nacionalidades diferentes, são assistidos pela Cáritas Arquidiocesana do Rio
de Janeiro. Desses, 77% já foram reconhecidos pelo governo brasileiro e 23%
aguardam a resolução de seus casos. Graças ao trabalho da Cáritas, os
indivíduos já reconhecidos ganharam status de refugiados pelo Conare – o Comitê
Nacional para os Refugiados, vinculado ao Ministério da Justiça – e isto lhes
garante inúmeros direitos e a assistência do Estado.
RIO: CIDADE ACOLHEDORA
Segundo Heloisa Santos Nunes, assistente social e membro da
Cáritas Rio de Janeiro, as maiores demandas de refugiados que chegam ao Rio são
de oriundos de Angola, República Democrática do Congo, Libéria, Somália, Colômbia
e Guiné Bissau. “Por mês estamos recebendo em média de 30 a 35 novas pessoas”,
informou.
Os refugiados que pedem ajuda à Cáritas são encaminhados
para uma entrevista social. Nela se faz o currículo para busca de trabalho, e
logo se encaminha a pessoa para cursos profissionalizantes, oferecidos através
de convênios firmados com o Senai, o Sesi, o Senac e o Sesc. Também é oferecida
assistência médica. Isso se dá pela parceria com o Hospital dos Servidores do
Estado, o Hospital Pedro Ernesto, e a Associação Brasileira de Odontologia. No
setor de educação básica, o trabalho é desenvolvido com o apoio da Secretaria
de Estado de Educação. Outros trabalhos recebem o apoio das Faculdades Veiga de
Almeida, da Defensoria Pública, e do Centro de Tradições Afro-Brasileiras
(Cetrab).
Pelo trabalho realizado, a Cáritas Arquidiocesana é membro
do Comitê Estadual Intersetorial de Políticas de Atenção aos Refugiados.
ANDRÉIA GRIPP
COLABORAÇÃO: JULIANE FREITAS