A partir desta edição, reflexões sobre as prioridades do 11º
Plano de Pastoral de Conjunto (PPC), que estará em vigor até 2016 na Arquidiocese de São Sebastião do
Rio de Janeiro. O primeiro capítulo “Nosso tempo e suas marcas” foi analisado pelo coordenador do
Programa de Pós-Graduação e professor de Teologia da PUC-Rio, padre Abimar Oliveira de Moraes.
Já no primeiro capítulo, o PPC aponta-nos a necessidade de
conhecer nosso tempo e suas marcas. De certo modo, é este o objetivo central de
um projeto de Pastoral, isto é, planejar ou elaborar as devidas intervenções
pastorais capazes de responder aos problemas emergentes relativos a uma
determinada práxis religiosa, cristã e eclesial. Intervenções estas que devem
ter em profunda conta o atual contexto, no qual uma comunidade eclesial está
inserida.
A apresentação do 11º PPC traz novamente a reflexão sobre
porque é preciso planejar a pastoral. Ainda existem muitas tensões em torno
desta temática e prática. Muitos são aqueles que objetam que a Igreja é uma
grandeza diferente de qualquer outra instituição humana, cultural, social,
política, econômica, etc. e, portanto, se a planificação apresenta aspectos
problemáticos em tais setores da vida humana, maiormente apresentará na
planificação eclesial, pois a Igreja é uma comunidade criada continuamente pelo
Espírito e fundada sobre a fé na sua ação livre e imprevisível. Sendo assim,
programar o futuro exporia a Igreja ao risco de esquecimento da livre
intervenção do Espírito e ser obstáculo para a ação do Pneuma.
De fato, é preciso reconhecer que não é possível falar de
“plano pastoral” na mesma perspectiva das outras planificações, evidentemente
condicionadas e produzidas pelas livres escolhas humanas. A ação do Espírito
Santo que sopra onde e como quer não é programável: seus dons são distribuídos
segundo a sua munificência e imprevisibilidade. Por isso, o “processo de salvação”
individual e comunitário não é programável, pois é fruto da livre intervenção
divina no segredo da consciência de cada pessoa. Devemos, portanto, sempre,
deixar espaço para o domínio da absoluta liberdade graciosa e libertadora de
Deus.
Contudo, isso não nos deve conduzir a uma compreensão de
que a ação pastoral deve ser “espontânea” e improvisada . Na verdade, neste
ponto, ocorre-nos resgatar duas realidades evangélicas fundamentais: 1) a
promessa divina da contínua presença, segura (ainda que imprevisível) do
Espírito Santo e da força vitoriosa da sua intervenção em cada pessoa no
curso da sua história individual e comunitária; 2) a ação do Espírito Santo na
Igreja e na história humana acontece através de “mediações” humanas. É
exatamente isto que chamamos e entendemos por “dimensão sacramental” da Igreja
e da história humana. Isto é, a Igreja e a história humana são “lugares” da
transparência da ação do Espírito e, portanto, nessa perspectiva, é possível (e
necessário) planejar a pastoral.
Sendo assim, a comunidade eclesial, para realizar sua missão,
deve confrontar-se com a concreta realidade histórica da sociedade. Conhecer
nosso tempo e suas marcas é imprescindível. Pois, cada sociedade humana (as
urbanas em especial) tende sempre a produzir novas “imagens” de si, fruto de um
amplo processo de transformação social, cultural, econômica, política,
geracional, etc.
Nas sociedades passadas, os métodos pastorais eram válidos
por um longo período, atualmente, porém, a ação pastoral não pode deixar ao
acaso a edificação do Corpo de Cristo (cf. Ef. 4, 12).
Planejar, portanto, ajuda à Igreja a colocar em ato uma de
suas realidades mais profundas: ser uma comunidade sempre em “construção”.
Fazendo com que ela venha a edificar-se em cada geração e para o serviço a cada
nova época. Um PPC permite a uma comunidade de fé produzir uma evangelização
sempre nova nos métodos, linguagens, itinerários formativos e etc.
Desejamos que este 11º PPC produza uma participação afetiva
e efetiva na ação pastoral em todo território arquidiocesano; gere
responsabilidade concreta e direta de todos os agentes de pastoral; enfim, fomente
o discernimento para a divisão dos trabalhos e colaboração eficaz de tantas
mulheres e homens, adultos, jovens e crianças, ministros leigos e ordenados,
na edificação do Reino de Deus em terras cariocas.
PADRE ABIMAR OLIVEIRA DE MORAES
COORDENADOR DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PROFESSOR DE
TEOLOGIA DA PUC-RIO
FOTO: SXC.HU
FOTO: SXC.HU