sexta-feira, 31 de agosto de 2012

11º PPC: planejar? Por quê?


A partir desta edição, reflexões sobre as prioridades do 11º Plano de Pastoral de Conjunto (PPC), que estará em vigor até 2016 na Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro. O primeiro capítulo “Nosso tempo e suas marcas” foi analisado pelo coordenador do Programa de Pós-Graduação e professor de Teologia da PUC-Rio, padre Abimar Oliveira de Moraes.

Já no primeiro capítulo, o PPC aponta-nos a necessidade de conhecer nosso tempo e suas marcas. De certo modo, é este o objetivo central de um projeto de Pastoral, isto é, planejar ou elaborar as devidas intervenções pastorais capazes de responder aos problemas emergentes rela­tivos a uma determinada práxis religiosa, cristã e eclesial. Inter­venções estas que devem ter em profunda conta o atual contexto, no qual uma comunidade ecle­sial está inserida.
A apresentação do 11º PPC traz novamente a reflexão so­bre porque é preciso planejar a pastoral. Ainda existem muitas tensões em torno desta temática e prática. Muitos são aqueles que objetam que a Igreja é uma grandeza diferente de qualquer outra instituição humana, cul­tural, social, política, econômica, etc. e, portanto, se a planificação apresenta aspectos problemáticos em tais setores da vida huma­na, maiormente apresentará na planificação eclesial, pois a Igreja é uma comunidade criada continuamente pelo Espírito e fundada sobre a fé na sua ação livre e imprevisível. Sendo assim, programar o futuro exporia a Igreja ao risco de esquecimento da livre intervenção do Espírito e ser obstáculo para a ação do Pneuma.
De fato, é preciso reconhecer que não é possível falar de “plano pastoral” na mesma perspec­tiva das outras planificações, evidentemente condicionadas e produzidas pelas livres escolhas humanas. A ação do Espírito Santo que sopra onde e como quer não é programável: seus dons são distribuídos segundo a sua munificência e imprevisibili­dade. Por isso, o “processo de sal­vação” individual e comunitário não é programável, pois é fruto da livre intervenção divina no segredo da consciência de cada pessoa. Devemos, portanto, sempre, deixar espaço para o domínio da abso­luta liberdade gra­ciosa e libertadora de Deus.
Contudo, isso não nos deve con­duzir a uma com­preensão de que a ação pastoral deve ser “espontânea” e improvisada . Na verdade, neste ponto, ocorre-nos resgatar duas rea­lidades evangélicas fundamentais: 1) a promessa divina da contínua presença, segura (ainda que im­previsível) do Espírito Santo e da força vito­riosa da sua interven­ção em cada pessoa no curso da sua história individual e comunitá­ria; 2) a ação do Espírito Santo na Igreja e na his­tória humana acontece através de “mediações” humanas. É exatamente isto que chamamos e en­tendemos por “dimensão sacramental” da Igreja e da história humana. Isto é, a Igreja e a história humana são “lugares” da transparência da ação do Espírito e, portanto, nessa perspectiva, é possível (e necessário) planejar a pastoral.
Sendo assim, a comunidade eclesial, para realizar sua mis­são, deve confrontar-se com a concreta realidade histórica da sociedade. Conhecer nosso tem­po e suas marcas é imprescin­dível. Pois, cada sociedade hu­mana (as urbanas em especial) tende sempre a produzir novas “imagens” de si, fruto de um amplo processo de transforma­ção social, cultural, econômica, política, geracional, etc.
Nas sociedades passadas, os métodos pastorais eram válidos por um longo período, atualmente, porém, a ação pas­toral não pode deixar ao acaso a edificação do Corpo de Cristo (cf. Ef. 4, 12).
Planejar, portanto, ajuda à Igreja a colocar em ato uma de suas realidades mais profundas: ser uma comunidade sempre em “construção”. Fazendo com que ela venha a edificar-se em cada geração e para o serviço a cada nova época. Um PPC permite a uma comunidade de fé produzir uma evangelização sempre nova nos métodos, linguagens, itine­rários formativos e etc.
Desejamos que este 11º PPC produza uma participação afe­tiva e efetiva na ação pastoral em todo território arquidio­cesano; gere responsabilidade concreta e direta de todos os agentes de pastoral; enfim, fo­mente o discernimento para a divisão dos trabalhos e colabo­ração eficaz de tantas mulheres e homens, adultos, jovens e crianças, ministros leigos e or­denados, na edificação do Rei­no de Deus em terras cariocas.

PADRE ABIMAR OLIVEIRA DE MORAES
COORDENADOR DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PROFESSOR DE TEOLOGIA DA PUC-RIO
FOTO: SXC.HU