segunda-feira, 23 de julho de 2012

Um homem comprometido com a Igreja



O Cardeal Dom Eugenio de Araujo Sales nunca duvidou do amor que Deus tinha por ele e isso foi provado com várias delicadezas: faleceu de infarto agudo do miocárdio, na segun­da-feira, às 22h30 do dia 9 de julho, dormindo serenamente e em um dos dias devotados a Nossa Senhora, a da Paz, pois ele era ex-aluno do Colégio Ma­rista de Natal e devoto de Maria. Tinha 91 anos e era arcebispo emérito da Arquidiocese do Rio de Janeiro. Foi arcebispo por 30 anos da cidade que o acolheu como pai e aqui mostrou, em todos os momentos de sua exis­tência, determinação e coragem.
O corpo foi levado para a Catedral em um caminhão do Corpo de Bombeiros, acom­panhado por um comboio na última terça-feira, dia 10 de julho. Aguardavam o corpo de Dom Eugenio, na frente da Catedral Metropolitana, ao lado do arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani João Tempesta, o governador do Estado, Sérgio Cabral Filho, e o prefeito da cidade, Eduardo Paes. Na che­gada, ao meio-dia, seu corpo foi recebido com uma salva de palmas e pela Banda da Polícia Militar, que tocou o Hino Nacio­nal. Seu caixão estava coberto pela bandeira brasileira. Nesse mesmo horário, todas as igrejas do Rio tocaram seus sinos.
Ao ser conduzido e colocado exatamente em frente à Cate­dral, uma pomba branca foi solta pelo voluntário da Cruz Vermelha Gilberto de Almei­da, de 59 anos, e ela acabou pousando em cima do caixão e acompanhando Dom Eugenio até a missa das 18h. O arcebispo emérito costumava rezar o Ân­gelus, às 18h, todos os dias na Rádio Catedral. Mais uma de­licadeza de Deus que demons­trava o quão iluminado ele era. A pomba é um dos símbolos do Espírito Santo demonstrando a unção que tinha esse filho tão amado por Deus.
Em entrevista ao jornal Tes­temunho de Fé, o arcebispo do Rio, Dom Orani Tempesta, declarou que Dom Eugenio foi um homem que viveu para Deus e para o Seu povo e cujos legados são marcantes, não só para o Rio de Janeiro, como para o Brasil e para a Igreja do mundo inteiro. Essa afirmação foi reforçada na homilia da missa de exéquias realizada na terça-feira, 10 de julho. “Eu creio que Dom Eugenio, desde que foi bispo no Nordeste, mostrou a sua preocupação com a dimen­são social, particularmente com a educação e a promoção dos pobres, para que tivessem mais dignidade. É dele a iniciativa da Campanha da Fraternidade, as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). No Rio de Janeiro, deu continuidade ao trabalho do Banco da Providência, o acolhi­mento dos refugiados, a defesa dos perseguidos políticos, e um carinho todo especial aos ex­cluídos, tais como pessoas com HIV”, declarou o arcebispo.
Dom Orani lembrou ainda o entusiasmo e o marcante de­sempenho de Dom Eugenio pela Jornada Mundial da Juventude. Chamou a atenção para o fato de que ele enviou uma carta para o Santo Padre indicando o Rio de Janeiro como sede da jornada, que vai acontecer de 23 a 28 de julho de 2013, na Cidade Maravilhosa. E finalizou dizendo que, além dos patronos e intercessores para a jornada, haverá a intercessão especial desse amigo da arquidiocese: Dom Eugenio, que foi cardeal, apóstolo, evangelizador.
Além de seu caráter evan­gelizador, outra característica inerente a Dom Eugenio Sales foi a sua atuação na época da ditadura, acolhendo presos e refugiados, fatos que poucas pessoas sabem.
O deputado federal do Par­tido da Social Democracia Bra­sileira (PSDB), Otávio Leite, relembrou que Dom Eugenio era um homem que tinha uma personalidade ímpar, uma lide­rança toda especial. Disse ainda que o cardeal fundou a Pastoral dos Católicos na Política e que o próprio deputado participou da fundação. “Qual era o objetivo de Dom Eugenio? Reunir, em um grupo, parlamentares de vários partidos que tinham uma identidade comum, o interesse pela religião, a preocupação com os valores que emanam da doutrina católica. Desde essa época, nós nos reunimos a cada dois meses. Guardo uma ad­miração especial pela sua ação política. Por outro lado, seu tra­balho silencioso de apoio, dando retaguarda por meio da Cáritas aos prisioneiros políticos, não só daqui, mas de outros países que aqui se refugiavam”, destacou o deputado.
A missa celebrada por Dom Orani foi simples e especial, como Dom Eugenio. No final da celebração, o pároco da Igreja de Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, monsenhor Manoel Moreira Vieira sinteti­zou o significado desse homem incansável na fé: “Dom Euge­nio foi um grande pastor, um homem sensível às necessida­des do nosso povo, um pastor comprometido com a história, uma pessoa realmente mar­cante, um testemunho huma­no e cristão fora do comum”, resumiu.

FOTO: GUSTAVO DE OLIVEIRA