terça-feira, 15 de maio de 2012

A origem da devoção mariana



Quando começou a devo­ção mariana? A pergunta é legítima. E a resposta é ime­diata e segura: a devoção a Maria começou com o próprio cristianismo. Observemos os fatos. Entremos na pequena Casa de Nazaré, a casa das nossas origens e das nossas primeiras memórias. Eis o que encontramos: o Anjo Gabriel mandado por Deus aparece a Maria e diz-lhe: “Salve, ó cheia de graça, o Senhor está contigo!” (Lc 1, 28).
Com estas palavras que vêm do Céu começa a devoção mariana. Quem pode negar a evidência deste fato? E quan­do Maria, única guardiã do anúncio do Anjo, se apresenta a Isabel depois da longa via­gem da Galileia até a Judeia, acontece outro fato singular. Isabel ouve a saudação de Maria e percebe que o meni­no ‘salta’ de alegria no seio, enquanto o Espírito Santo a atravessa e lhe sugere palavras de rara beleza e de surpreen­dente compromisso: “Bendita és tu entre as mulheres e ben­dito é o fruto do teu ventre. E que venha a mim a mãe do meu Senhor? Pois logo que chegou aos meus ouvidos a tua saudação, o menino saltou de alegria no meu seio. Feliz de ti que acreditaste, porque se vai cumprir tudo o que foi dito da parte do Senhor” (Lc 1, 42-45). É a segunda expressão de devoção mariana registrada no Evangelho.
Vamos até a narração do Natal. O Evangelho de Lucas refere: “Quando os anjos se afastaram deles em direção ao Céu, os pastores disseram uns aos outros: “Vamos a Belém ver o que aconteceu e o que o Senhor nos deu a conhecer”. Foram apressadamente e en­contraram Maria, José e o me­nino deitado na manjedoura” (Lc 2, 15-16).
Imaginemos que os pastores, após terem ajoelhado diante do Menino, tenham lançado a seguir um olhar a Mãe e tenham sussurrado alguma palavra. Não é legítimo pensar que os pastores tenham exclamado: “Feliz és tu, Mãe deste Menino?!” Era uma expressão de devoção mariana.
Passemos ao evangelista Mateus, que narra a chegada dos Magos em Belém e usa estas palavras textuais: “E a estrela que tinham visto no Oriente ia diante deles, até que, chegando ao lugar onde estava o menino, parou. Ao ver a estrela, sentiram imensa alegria; e, entrando na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se, adoraram-No” (Mt 2, 9-11).
Podemos, sem muito esforço, imaginar a grande emoção dos Magos, os quais, após uma longa e aventurosa viagem, tiveram a alegria de ver o Menino tão esperado e desejado! Porém, não nos afastamos da verdade dos fatos, se imaginarmos também que os Magos, depois da adoração do Menino, tenham olhado para Maria e lhe dirigido palavras de admiração: também esta é devoção mariana, percebida nas entrelinhas do Evangelho!
Nas bodas de Caná. Conhecemos toda a encantadora história da festa das bodas, na qual Maria intervém ao mesmo tempo com delicadeza e decisão para salvar a alegria dos noivos. Os servos, que conheciam o exato suceder-se dos fatos certamente aproximaram-se de Maria e disseram: “Jesus escutou-te! Fala-lhe de nós e pede uma bênção para as nossas famílias!”. Também estas eram autênticas flores de devoção mariana. E os noivos não retomariam com Maria o discurso das bodas e da água transformada em vinho? Certamente teriam dito a Maria: “Obrigado! A tua intervenção salvou a nossa festa. Continua a orar por nós!”
Assim começa a devoção mariana. E continua nos séculos  sem interrupção. A verdade histórica é: Maria, a partir das palavras empenhadas pronunciadas pelo Anjo Gabriel, foi imediatamente olhada com admiração. E logo a sua intercessão foi invocada por motivo do seu particular vínculo com Cristo: o vínculo da maternidade! Portanto, quando recorrermos a Maria para a invocar com filial confiança, não nos encontraremos fora do Evangelho, mas totalmente dentro dele.

DOM NELSON FRANCELINO FERREIRA
IMAGEM: REPRODUÇÃO