segunda-feira, 2 de abril de 2012

Um presente em homenagem a Jerônimo e à Zélia



No dia 25 de março, foi realizada a Celebração Eucarística de entronização dos quadros dos Servos de Deus, Jerônimo e Zélia, na Paróquia Nossa Senhora da Conceição, no bairro da Gávea. A missa foi presidida pelo vigário episcopal para a Vida Consagrada e responsável pelos processos de candidatos à causa dos santos da Arquidiocese do Rio, Dom Roberto Lopes.
Segundo Dom Roberto, o objetivo da celebração foi o de apresentar o casal, que teve uma vida santa, ao povo carioca, propagando, assim, a devoção a eles.
"O propósito foi instalar os quadros e distribuir os santinhos, que já foram confeccionados com uma oração, para que essa devoção possa pouco a pouco crescer e, assim, ser também um ícone da família para o povo do Rio de Janeiro", afirmou o vigário episcopal.
A pesquisa histórica sobre Jerônimo de Castro Abreu Magalhães e sua esposa Zélia está sendo feita por uma comissão arquidiocesana, instalada no dia 23 de dezembro pelo arcebispo Dom Orani João Tempesta. A princípio, a pesquisa seria direcionada somente à Zélia (1857-1919), mas durante os estudos descobriu-se também a vida de comprovada santidade de seu esposo Jerônimo.


VIDA DE SANTIDADE
Jerônimo nasceu em Magé, na Baixada Fluminense, e Zélia Pedreira em Niterói. Casaram-se em 27 de julho de 1876, na Chácara da Cachoeira, no bairro da Tijuca. Ele era engenheiro civil e ela uma jovem letrada, com primorosa formação artística, literária e científica.
Após uma temporada em Petrópolis, o casal fixou sua residência na Fazenda Santa Fé, perto do Carmo do Cantagalo, na Província do Rio de Janeiro, pertencente à família Abreu Magalhães, onde os dois constituíram um autêntico lar cristão.
Na fazenda havia uma capela, onde inúmeras vezes ao dia o casal era visto rezando, assim como também seus escravos, que iniciavam o trabalho do dia sempre com oração conduzida por Jerônimo e Zélia no pátio da fazenda, pois o casal se preocupava muito com a vida espiritual deles. Por isso, incentivavam e promoviam a participação dos escravos nas missas, na catequese e nas confissões. Eles mesmos catequizavam os adultos e as crianças.
Os dois nunca trataram seus escravos como sendo suas propriedades. Na fazenda, eles viviam em liberdade e recebiam, inclusive, salário. O casal também construiu uma enfermaria para tratar dos escravos doentes.
Quando foi assinada a Lei Áurea, em 13 de maio de 1888, os escravos permaneceram residindo na Fazenda Santa Fé, pois junto com Jerônimo e Zélia sempre viveram e foram tratados como pessoas livres.
Desse santo e feliz casamento nasceram 13 filhos, quatro falecidos em tenra idade, tendo todos os demais (três homens e seis mulheres) abraçado diferentes ordens religiosas, dentre eles o frei franciscano José Pedreira de Castro, professor de ciências bíblicas que fundou em 1956 o Centro Bíblico e o curso de Sagrada Escritura por correspondência, cuja repercussão alcançou todos os estados da federação numa intensidade jamais prevista, tornando-se ele personagem histórico da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil.
Em 1909, Jerônimo morreu em estado de santidade. Zélia foi cuidar de seu pai, cuja esposa havia falecido em 1901. Ela residiu com ele até sua morte, em 1º de novembro de 1913. A partir daí, Zélia concretizou um antigo desejo de se tornar religiosa, ingressando, então, no Convento das Servas do Santíssimo Sacramento, o Venite Adoremus, estabelecido em 1912, no Largo do Machado, no Rio de Janeiro.
Após vender todos os seus bens e doá-los aos mais necessitados e também à Igreja, cumprindo o que está no Evangelho, Zélia passou a ser chamada de irmã Maria do Santíssimo Sacramento, tomando o hábito para a vida religiosa em 22 de janeiro de 1918. No dia 8 de setembro de 1919, ela morreu em fama de santidade.


RECONHECIMENTO PÚBLICO
Para Dom Roberto, o desejo de Jerônimo e Zélia sempre foi o de agradar a Deus desde o período em que se conheceram, quando na troca de olhar já ficou claro que o namoro deles seria um namoro diferente.
"Zélia e Jerônimo eram muito apaixonados. A vida de oração foi crescendo dentro do coração do casal. Eles educaram seus filhos para Deus, e a Eucaristia era algo que procuravam dar de presente para o povo de Deus que o cercava,", destacou.
De acordo com o presidente da comissão histórica da beatificação de Jerônimo e Zélia, Allann Rodolpho Amaral Vilela de Queiroz, o processo de beatificação do casal está ainda em sua fase preliminar, apesar de estar um pouco adiantado em âmbito arquidiocesano.
"Estamos aguardando a autorização que virá de Roma neste ano, e, com esta autorização, os postuladores virão exumar os corpos de Jerônimo e de Zélia, que ficarão publicamente expostos por três horas numa igreja determinada pelo arcebispo, que é uma norma canônica. Depois haverá uma missa pública, com autorização do Santo Padre, e, em seguida, a transladação dos mesmos corpos para uma igreja que o arcebispo determinar, para que fique servindo para a devoção pública, a fim de que as pessoas possam rezar diante dos corpos dos dois Servos de Deus", explicou.
Allann ressaltou que antes mesmo do processo de beatificação ser iniciado, muitas pessoas já conhecem a história de vida do casal. "Da década de 30 até a década de 60, a vida de Zélia foi bastante conhecida. Inclusive, a biografia dela chegou à sexta edição e foi traduzida em iugoslavo, alemão, francês, espanhol, em italiano, e em português de Portugal. Agora, estão sendo retomadas essas iniciativas. É bonito quando você vai fazer as pesquisas nas redondezas ou em outros lugares do Brasil e encontra pessoas idosas que se lembram da época em que a sociedade pediu ao arcebispo e, em seguida, ao Papa para alcançar essa beatificação", frisou.


SANTOS POR VOCAÇÃO
Segundo o pároco da Igreja Nossa Senhora da Conceição e presidente da Associação Cultural Católica Zélia e Jerônimo, padre Geraldo Bellocchio, é uma alegria a comunidade paroquial estar ajudando e contribuindo para a Igreja do Rio na descoberta dos valores da família através da vida deste casal do século 19.
Para o sacerdote, o modelo de vida do casal é um testemunho ao mundo de que se pode ser santo não apenas pela vida consagrada, como religioso, mas que se pode ser santo na vida cotidiana, como batizado e na experiência da vocação ao qual se é chamado.
"Zélia e Jerônimo foram chamados para a experiência da vida matrimonial e se santificaram justamente através deste matrimônio. Lendo os escritos deles, a gente percebe que eram apaixonados um pelo outro. Eles viveram a experiência da vida matrimonial em toda a efusão do amor de um marido e de uma esposa e isso os ajudou a se santificarem, a se encontrarem e se aprofundarem no amor de Deus", ressaltou.


RENATO FRANCISCO

FOTO: GUSTAVO DE OLIVEIRA