segunda-feira, 5 de março de 2012

Esmola

Estamos na Quaresma, tempo que nos prepara à celebração da vitória de Jesus sobre a morte, tempo de conversão e de penitência. Este é um tempo especial – tempo de graça – que nos faz esperar e agir, pois a última palavra não pertence à morte, mas à vida. Aquele que vai ser crucificado será ressuscitado para que todos tenham vida em plenitude. Deus é nosso aliado na luta pela vida, aliado de toda a criação. E a prática de Jesus o confirma, pedindo nossa colaboração solidária na implantação do projeto de Deus.
Para o Catecismo da Igreja Católica (CIC nº 1434), "a penitência interior do cristão pode ter expressões bem variadas. A escritura e os padres da Igreja insistem principalmente em três formas: o jejum, a oração e a esmola (Is 1,16-17; Mt 6,1-6.16-18), que exprimem a conversão com relação a si mesmo, a Deus e aos outros. Ao lado da purificação radical operada pelo batismo ou pelo martírio, citam como meio de obter o perdão dos pecados, os esforços empreendidos para reconciliar-se com o próximo, as lágrimas de penitência, a preocupação com a salvação do próximo, a intercessão dos santos e a prática da caridade, "que cobre uma multidão de pecados" (1Pd 4,8).
Se observarmos bem, esmola para nós hoje pode ser confundida como: migalha, o que não nos faz falta, a sobra, o pouco etc. O que deveria ser era um ato de amor e de caridade. Qualquer ato de amor por menor que seja, sendo dado como o óbolo da viúva (Mc 12,42-44), terá um efeito reparador na nossa vida. Além disso, uma atitude boa não faz mal nenhum, mesmo que a outra parte não esteja agindo bem. Quantas vezes somos enganados por aqueles que nos pedem uma ajuda? Não nos cabe julgar; o nosso papel é fazer o bem, ter a reta intenção de ajudar.
Jesus alerta seus discípulos e a nós para que as boas obras (esmolas) sejam feitas em segredo, assim esse gesto será autêntico (Mt 6,2-4). Caso contrário, não receberemos a recompensa de nosso Pai celestial. A esmola é um gesto de partilha e deve ser sinal da compaixão que busca a justiça, não dando sentido ao egoísmo da posse, em outras palavras um ato de desprendimento. No Evangelho, Jesus é mais duro e diz: "vendam seus bens e deem o dinheiro em esmola. Façam bolsas que não perdem o seu valor no céu: lá os ladrões não chegam, nem a traça rói" (Lc 12,33). Dar esmola para ser elogiado é servir a si mesmo; é, portanto, falsear o sentido que provém deste ato.
A esmola é uma obra de misericórdia e uma ação caritativa pela qual socorremos o próximo nas suas necessidades corporais e espirituais: instruir, aconselhar, consolar, confortar são obras de misericórdias espirituais, como também perdoar e suportar com paciência. "As obras de misericórdia corporal consistem, sobretudo, em dar de comer a quem tem fome, dar moradia aos desabrigados, vestir os maltrapilhos, visitar os doentes e prisioneiros, sepultar os mortos." (CIC nº 2447).
Dentre esses gestos de misericórdia, a esmola dada aos pobres (Mt 25,31-46) é um dos principais testemunhos da caridade fraterna. É também uma prática de justiça que agrada a Deus. Segundo este texto do juízo final, a fé é reconhecimento e compromisso com a pessoa concreta de Jesus, que está nos pequenos – pobres – doentes e em todos aqueles que são colocados à margem de nossa sociedade. Fazer o bem, dar esmola a eles é fazer a Jesus. Esses serão benditos do Senhor.

MONS. LUIZ ANTÔNIO PEREIRA LOPES