segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

A dinâmica do Bom Samaritano hoje



No início de fevereiro, o jovem Vitor Suarez Cunha, de 25 anos, foi brutalmente espancado ao tentar defender um mendigo que estava sendo agredido por outros jovens na Ilha do Governador, no Rio. A notícia, que chocou a sociedade dentro e fora do país, revelou extremos da maldade irracional e da bondade humana. Como o Bom Samaritano do Evangelho, ele não ficou indiferente ao sofrimento de um pobre marginalizado.
O mendigo, em sua embriaguez, revelava as reais consequências do alcoolismo, muitas vezes gerado pela mesma sociedade que insiste em viver sem o fundamento essencial do ser humano, que é Deus, e que por isso também produz jovens agressores.
Segundo o bispo auxiliar e animador do Ensino Religioso nas escolas, Dom Nelson Francelino Ferreira, o jovem Vitor revelou em sua nobreza de caráter e atitude corajosa o ensinamento cristão de amor ao próximo.
"Muitas vezes nós falamos de martírio, mas não atualizamos bem esse conceito. Eu ouvi uma entrevista onde a mãe do Vitor disse que sempre educou o filho para esses valores e que ele encarnou essa ideia. Essa é a dinâmica da formação, da importância do lar. Vitor não se manteve indiferente à agressividade que seus olhos contemplavam, mas tomou uma atitude corajosa, mesmo sabendo das possíveis consequências", afirmou Dom Nelson.
O bispo incentivou a toda a sociedade a dar uma atenção especial a esse acontecimento para impedir que os culpados fiquem impunes, mas destacou que é preciso noticiar com grande destaque os valores humanos e familiares que determinaram a atitude do Vitor.
"Nesse momento, a imprensa e todos nós temos que denunciar a violência e pedir a punição dos agressores para que a justiça não seja branda ao ponto de dar penas sociais, porque os agressores precisam de punições mais reparadoras, terapêuticas e curativas. Mas não devemos dar um enfoque sensacionalista à violência; é preciso exaltar o testemunho firme, decidido e coerente, o ato profético e solidário do jovem Vitor em defesa dos menos favorecidos. Destacar que os valores da família determinam os atos, mesmo em meio às adversidades. A atitude heroica do Vitor não pode ser esquecida; tem que ser anunciada para que possamos lembrar que a juventude tem muitos valores", afirmou Dom Nelson.


"A RELIGIÃO RESGATA VALORES FUNDAMENTAIS QUE NÃO SE PERDEM JAMAIS"
PADRE FRANCISCO REINALDO


Segundo o bispo referencial para o Ensino Religioso da CNBB, Dom Tarcísio Scaramussa, o ensino religioso pode ajudar a juventude a ter um sentido de vida. "O ensino religioso responde a uma dimensão fundamental do ser humano, aquela que é a síntese e que unifica a pessoa, é a sua identidade. Através dessa relação com o transcendente é possível encontrar o fundamento da vida, de onde se veio e para onde se vai. O ensino religioso dá rumo à existência, e é isso que as pessoas mais precisam nos dias de hoje nessa sociedade fragmentada", afirmou Dom Tarcísio.
O assessor da Pastoral da Comunicação do Vicariato Jacarepaguá, padre Francisco Reinaldo Oliveira, destacou que a religião é um valor vital na vida de toda pessoa. "A religião é o ponto fundamental na formação do ser humano, que faz com que uma pessoa se torne realmente pessoa. O Catecismo da Igreja Católica fala do "homem capaz de Deus". Essa alma voltada para Deus, que tem sede e fome de Deus é a alma de todo ser humano, independente de onde ele nasça e do credo que ele abrace", afirmou o sacerdote.
Padre Francisco explicou que essa capacidade de Deus é o anseio de sentido mais profundo que existe no coração de cada ser humano. "Quando lidamos com uma situação de violência e agressão a uma pessoa, pela alienação do valor da existência, é sinal de que estamos diante de um ser que não consegue reconhecer o valor da vida em si. Quando não conseguimos perceber que a vida é um algo doado por Deus e que precisa ser preservada, cultivada e valorizada da melhor maneira possível, achamos que ela pode acabar de qualquer maneira", alertou.
O padre acredita que essa situação catastrófica de desordem e de violência é sinal que o ser humano está perdendo as suas referências fundamentais.
"Quando lutamos pelo ensino religioso obrigatório e confessional como algo importante, é porque acreditamos que essa formação faz com que o jovem seja edificado de maneira sólida. Ele vai aprender a conviver com as diferenças, respeitar os espaços dos outros porque sabe o quanto a diversidade representa um valor e não uma ameaça. A religião resgata valores fundamentais que não se perdem jamais", ensinou.

CLÁUDIA BRITO

FOTO: STUDIO CL ART