sábado, 16 de julho de 2011

É preciso desenvolver leitura crítica da comunicação


No novo cenário cultural, especialmente marcado pelo virtual e pleno das diversificadas informações amplamente exploradas pela convergência de mídias, o indivíduo vive um momento histórico em que é convidado a se posicionar criticamente diante das notícias. O receptor da mensagem, que agora também é emissor e tem a possibilidade de manipular conteúdos para novamente transmiti-los, parece precisar compreender como agir diante da pluralidade, se reconhecendo como um ator comunicacional que pode alterar, para o bem ou para o mal, toda a compreensão dos fatos divulgados.

“Somos múltiplos atores envolvidos na comunicação, e talvez nós ainda não tenhamos aprendido a trabalhar a diversidade e o conflito. Nesta sociedade não há diversidade só de interlocutores, mas também de opiniões. O espaço público por onde circulam as nossas ideias, os nossos valores, não é um, é plural, diverso. Se é plural e diverso é necessariamente de conflito”, explicou o professor Mauro Wilton de Souza.

O professor Elson Faxina concorda que é preciso estar atento para não se deixar enganar e/ou usar por questões pessoais, nem sempre verdadeiras, e que interessam a apenas alguns.

“Os meios têm muitas coisas boas, e coisas que têm também um interesse pessoal, um interesse próprio da emissora ou do grupo que divulga a informação. Existem coisas que, na comunicação, têm uma visão tendenciosa. Às vezes existe todo um conceito que vai se montando contra uma instituição, por exemplo, e nós precisamos ter uma consciência crítica sobre isso. Não podemos engolir como se tudo o que os meios nos passam fossem coisas boas, porque não é bem assim”, advertiu.

Para o professor Mauro Wilton, a transparência, hoje, é uma exigência da comunicação. O que acaba por implicar numa nova ética, também baseada na credibilidade.

“A transparência, no jogo do conflito, é um dos fatores de credibilidade e de visibilidade para o que é comunicado. E conforme o indivíduo se reconhece como interlocutor neste processo, as coisas ficam mais claras. Surge, então, uma nova maneira, uma nova ordenação de valores: a ética do diálogo”, destacou.

No entanto, o professor constata que essa consciência crítica ainda precisa ser formada nesses novos interlocutores

“Nós não temos essa visão trabalhada, como se houvesse uma visão crítica das pessoas. Isso vai acontecendo na prática, a partir do momento em que as pessoas se expõem. A crítica não é dependente de um valor social único; está baseada numa experiência concreta, na própria abertura da pessoa a essa exposição ao meio”, disse.

A responsabilidade sobre o que vai ser comunicado é fundamental. A verdade sobre os fatos, neste novo cenário comunicacional, é determinante para o sucesso das relações. Criticar algo ou alguém, levantar suspeitas, caluniar ou difamar pode romper com valores sociais, inclusive.

“Quando se calunia alguém que tem um forte vínculo com uma instituição, por exemplo, se atinge um bem maior, que é a própria instituição. Existe processo e existe uma punição”, advertiu a delegada da Polícia Civil, titular da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática, Helen Sardenberg.

De acordo com a delegada, as inverdades divulgadas na internet, sejam feitas por uma pessoa ou por um grupo, devem ser denunciadas. Inclusive, segundo ela, é comum haver denúncias contra a imprensa.

“O ideal é que se faça uma petição relatando o incidente, e que as provas, documentais ou não, sejam anexadas. A delegacia, então, vai providenciar para que se instaure a investigação”, explicou a delegada.



Nice Affonso

Publicado originalmente no Portal da Arquidiocese, em 14/07/201