segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

O curso para bispos

Realizamos neste ano na nossa arquidiocese o XX Curso para Bispos, de 31 de janeiro a 4 de fevereiro. Essa louvável iniciativa do meu venerando antecessor, cardeal Eugenio de Araujo Sales, continuada pelo nosso predecessor, D. Eusébio Oscar Scheid, parece ter ressoado para toda a Igreja, já vem explicitamente recomendada pelo Venerável Papa João Paulo II na Exortação Apostólica Pós-Sinodal “Pastores Gregis”, de 16 de outubro de 2003, que assim fomenta em seu número 24: “Em estreita ligação com o compromisso que o bispo tem de avançar incansavelmente pelo caminho da santidade, vivendo uma espiritualidade cristocêntrica e eclesial, a assembleia sinodal colocou também a exigência da sua formação permanente. (...) A formação permanente deve ser vista como necessária, especialmente para o bispo, que carrega a responsabilidade do progresso comum e do caminho harmônico na Igreja”.
Desde o início, como também agora, esse momento é de encontro, aprofundamento, oração e confraternização entre os sucessores dos apóstolos que acolhem o convite da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro. E esta, por sua vez, tem a alegria de acolher a todos em seu Centro de Estudos do Sumaré.
Como para os sacerdotes e as pessoas de vida consagrada, a formação permanente, no caso do bispo, é uma exigência intrínseca da sua vocação e missão. De fato, em virtude dela é possível discernir os novos apelos com que Deus especifica e atualiza o chamamento inicial. Também o apóstolo Pedro, depois do convite “segue-Me”, recebido no primeiro encontro com Cristo (cf. Mt 4, 19), ouviu repetir-lhe o mesmo convite pelo Ressuscitado, que, antes de deixar a Terra e preanunciando-lhe as canseiras e tribulações do futuro ministério, acrescenta: “Tu, segue-Me” (Jo 21, 22). “É, portanto, um ‘segue-Me’ que acompanha a vida e a missão do apóstolo. É um ‘segue-Me’ que acompanha o apelo e a exigência de fidelidade até a morte (cf. Jo 21, 18-19), um ‘segue-Me’ que pode significar uma sequela Christi até ao dom total de si no martírio”. Não se trata, evidentemente, de realizar apenas aquela atualização adequada que se requer para um conhecimento real da situação da Igreja e do mundo, que permita ao Pastor estar inserido no seu tempo com mente aberta e coração compassivo. A esta boa razão para uma formação permanente atualizada, juntam-se motivações antropológicas resultantes do fato de que a própria vida é um caminhar incessante para a maturidade; e motivações teológicas, que têm profundamente a ver com a raiz sacramental: com efeito, o bispo deve “guardar com amor vigilante o “mistério” que traz em si para o bem da Igreja e da humanidade”.
Para uma atualização periódica, especialmente sobre alguns temas de grande importância, requerem-se tempos específicos e prolongados de escuta, comunhão e diálogo com peritos – Bispos, sacerdotes, religiosos e religiosas, leigos – num intercâmbio de experiências pastorais, conhecimentos doutrinais, recursos espirituais que não deixarão de assegurar um verdadeiro enriquecimento pessoal”.
Tal possibilidade da formação permanente vem ainda corroborada pelo Diretório para o Ministério Pastoral dos Bispos, que nos foi dado pela Congregação para os Bispos em 22 de fevereiro de 2004, na festa da Cátedra de São Pedro. Nele, a partir do número 49, assinalam-se como subtítulos: o dever da formação permanente; formação humana, formação espiritual, a formação intelectual e doutrinal, a formação pastoral, findando no número 54 com o indicativo: os meios da formação permanente.
Neste ano refletiremos sobre os 50 anos do Concílio Ecumênico Vaticano II, em uma primeira abordagem. Quem coordena o nosso curso é o bispo auxiliar emérito de nossa arquidiocese, D. Karl Joseph Romer. Iremos ouvir especialistas que levantarão aspectos essenciais do Concílio, a sua doutrina, as transformações e a reação da Igreja. Iremos, nestes dias de estudo, de oração, de retiro e de descanso, reviver o Concílio que está muito presente na vida da Igreja, porque se trata da reflexão da Igreja sobre si mesma e sobre a atuação no mundo. A Igreja é a luz dos povos e ela deve ser o reflexo de Jesus Cristo! E é precisamente esta luz que estaremos buscando enxergar nestes dias.
Papa Paulo VI, na mensagem do Concílio à Humanidade, disse que “este é um momento único, de um significado e riqueza incomparáveis. Neste encontro universal convergem simultaneamente o passado, o presente e o futuro. O passado, porque está aqui reunida a Igreja de Cristo, com a sua tradição, história, concílios, doutores e santos. O presente, porque saímos de nós próprios para nos dirigirmos ao mundo atual, com suas misérias, dores, pecados, mas também com seus empreendimentos prodigiosos, valores e virtudes. Por fim, o futuro, que se encontra representado no apelo dos povos a uma maior justiça, no seu desejo de paz e de uma vida que a Igreja de Cristo lhes pode e deseja dar”.
Peço a todos os meus leitores que rezem pelo êxito deste curso, que muitos benefícios têm produzido em favor dos bispos brasileiros.


† Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ