Dom Eugenio sempre se preocupou em ajudar os pobres a ter
uma vida digna, com condições de trabalho, renda e uma organização para lutar
pelos seus direitos. Neste contexto, criou, na Arquidiocese de Natal, a Campanha
da Fraternidade (CF), e incentivou os sindicatos rurais, para poder ajudar os
trabalhadores. Mas sempre fez tudo com discrição.
Suas ações pastorais criativas, voltadas para a caridade
social, inspiraram o seu grande amigo Dom Helder Câmara que, ao fundar a
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), há 50 anos, junto com os
cardeais Motta e Câmara, buscou formas de colocar em prática as inovações
pastorais criadas por Dom Eugenio. Assim, a Campanha da Fraternidade foi
assumida pela Conferência e logo se espalhou por todo o Brasil. Através da CF,
assuntos prementes da vida eclesial foram discutidos e trabalhados em todo o
país, sempre na busca de soluções melhores para a vida do povo.
A Igreja do Rio viveu esta co m u n h ã o, com fidelidade e
silêncio. Na Arquidiocese do Rio, incentivou e realizou ele mesmo diversas
ações sociais. Dentre as muitas ações que foram feitas, destaca-se a ação em
favor aos moradores da comunidade do Vidigal, que não foram removidos graças à
sua intervenção através da Pastoral das Favelas.
Dom Eugenio era visto sempre subindo e visitando as pessoas
carentes do Rio de Janeiro, morros e bairros de nossa cidade, sempre levando a
Palavra de Deus aos mais pobres e desfavorecidos, sem esquecer-se de dialogar
com todos os habitantes, principalmente com os construtores da sociedade.
Outra ação de destaque em seu ministério episcopal, era a
solidariedade para com os refugiados na América Latina, especialmente os
exilados políticos, oferecendo-lhes asilo e proteção. Chegou a receber na
arquidiocese cerca de cinco mil pessoas nessas condições.
Também os exilados políticos do Brasil, perseguidos pela
ditadura militar, foram por ele acolhidos e protegidos. Muitas vezes levou em
seu próprio veículo até o aeroporto aqueles que necessitavam sair do país por
problemas políticos. Muitos desses refugiados, quando voltaram ao Rio, fizeram
questão de dizer como o arcebispo do Rio agia com energia e ajudava aos que
mais precisavam.
“Nunca ninguém veio reclamar da parte dos militares por eu
dar asilo aos exilados políticos, porque eles sabiam que eu não era político,
mas que eu era um pastor, estava atendendo aquelas pessoas como pastor. Eu
nunca pedi permissão aos militares para agir assim, porque eu agia segundo a minha
consciência de bispo e para agir assim não precisava pedir permissão a ninguém.
Esse foi um grande trabalho”, afirmou Dom Eugenio em entrevista ao Testemunho
de Fé, em 2006.
Sobre essa atuação de Dom Eugenio, o economista e ex-ministro
do Planejamento dos governos Médice e Geisel, durante a ditadura militar, João
Paulo dos Reis Veloso, comentou: “Ele sabia conduzir os assuntos para conseguir
os resultados desejados. Ele tinha boas relações com os ministros na época
militar, de modo a poder ajudar as pessoas que estavam precisando dele. Isto
porque era, acima de tudo, um pastor, um arcebispo, um cardeal que usava as
grandes habilidades políticas que tinha para conseguir bons resultados em
todas as circunstâncias no regime militar e depois do regime militar.”
Todo o carisma e aproximação entre o pastor e o povo
reverteram-se em boas obras para os fiéis e também para a população excluída,
que, aliás, sempre mereceu especial atenção do cardeal, principalmente através
do Banco da Providência, a maior obra social da Arquidiocese do Rio de Janeiro.
Hoje, o Banco atua em mais de 40 frentes de trabalho.
Dom Eugenio instalou o Ambulatório da Providência para
atendimento a aidéticos, prostitutas, mendigos e outros marginalizados e ainda
criou duas casas de acolhida: a Santo Antônio, sob a orientação das Irmãs
Filhas de São Camilo, e, a Sagrado Coração de Jesus, sob a direção das
Missionárias da Caridade.
Através da Pastoral do Menor, por exemplo, a Arquidiocese do
Rio passou a dar atendimento aos meninos de rua, em convênios com os governos
federal, estadual, municipal e entidades privadas.
Os trabalhos foram aumentando, gradativamente. A população
excluída e os fiéis em geral encontraram grande apoio e assessoria em grupos
como a Associação dos Médicos Católicos, a União dos Juristas Católicos, o
Grupo de Acompanhamento da Atuação dos Políticos Católicos, todos fundados
durante a sua gestão.
FOTO: ARQUIVO TF