Assinada no dia 8 de dezembro, o Vaticano publicou a íntegra da mensagem pelo Dia Mundial da Paz, do Papa Bento XVI, que há 44 anos a igreja comemora no dia 1º de janeiro. O tema da jornada de 2011 é “Liberdade religiosa, caminho para a paz”.
Em sua mensagem, o Papa lamenta que a religião venha sendo usada como tema de disputa, perseguição, atos de violência e de intolerância, e de vários cristãos que são vítimas desses atos em vários países do mundo.
Logo no início, o Papa recorda que, no dia 31 de outubro, dois padres e mais de 50 fiéis foram brutalmente assassinados quando participavam de uma cerimônia religiosa na catedral sírio-católica de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, em Bagdá, no Iraque. “A este ataque seguiram-se outros nos dias sucessivos, inclusive contra casas privadas, gerando medo na comunidade cristã e o desejo, por parte de muitos dos seus membros, de emigrar à procura de melhores condições de vida.”
Bento XVI continua encorajando a igreja iraquiana e em todo o Oriente Médio a continuarem oferecendo seu testemunho de fé na região. Em outubro, os bispos da região estiveram reunidos no Vaticano, participando da Assembleia Especial para o Oriente Médio, tentando encontrar soluções para a região.
Ele agradece a todos os governos que se esforçam para aliviar os sofrimentos, e convida o povo católico a continuar suas orações pelos irmãos do Oriente Médio. “É doloroso constatar que, em algumas regiões do mundo, não é possível professar e exprimir livremente a própria religião sem pôr em risco a vida e a liberdade pessoal.”
Dos vários pontos destacados em sua mensagem sobre a intolerância religiosa, o chefe da Igreja Católica mostra que os cristãos são, atualmente, o grupo religioso que padece o maior número de perseguições devido à própria fé. “Muitos suportam diariamente ofensas e vivem frequentemente em sobressalto por causa da sua procura da verdade, da sua fé em Jesus Cristo e do seu apelo sincero para que seja reconhecida a liberdade religiosa.”
Bento XVI lembra que toda pessoa é dona do direito sagrado a uma vida íntegra, mesmo do ponto de vista espiritual, já que Deus criou o homem e a mulher à sua imagem e semelhança. O Santo Padre destaca que o respeito de elementos essenciais da dignidade do homem, tais como o direito à vida e o direito à liberdade religiosa, é uma condição da legitimidade moral de toda a norma social e jurídica.
Mas para haver liberdade religiosa é preciso haver respeito recíproco. O Papa escreve que a liberdade religiosa está na origem da liberdade moral, e que existe uma ligação indivisível entre liberdade e respeito, que cada homem e cada grupo social estão obrigados a ter em conta os direitos alheiros e os seus próprios deveres com os outros. Uma liberdade hostil ou indiferente a Deus acaba por se negar a si mesma e não garante o pleno respeito do outro, escreveu o pontífice.
Mas aonde encontramos essa escola de paz? O Papa Bento XVI lembra que a primeira escola de paz encontramos na família. “Se a liberdade religiosa é caminho para a paz, a educação religiosa é estrada privilegiada para habilitar as novas gerações a reconhecerem no outro o seu próprio irmão e a sua própria irmã”. Ele volta a lembrar que a família é fundada sobre o matrimônio, expressão de união íntima e de complementaridade entre um homem e uma mulher. “Esta é a primeira escola de formação e de crescimento social, cultural, moral e espiritual dos filhos, que deveriam encontrar sempre no pai e na mãe as primeiras testemunhas de uma vida orientada para a busca da verdade e para o amor de Deus.”
As bases políticas e jurídicas de uma sociedade também estão inseridas na liberdade entre as religiões. Trata-se de um bem essencial, toda a pessoa deve poder exercer livremente o direito de professar e manifestar, individual ou comunitariamente, a própria religião ou a própria fé, tanto em público como privadamente, no ensino, nos costumes, nas publicações, no culto e na observância dos ritos. “Não deveria encontrar obstáculos, se quisesse eventualmente aderir à outra religião ou não professar religião alguma”. O ordenamento internacional reconhece aos direitos de natureza religiosa o mesmo status do direito à vida e à liberdade pessoal, comprovando a sua pertença ao núcleo essencial dos direitos do homem, àqueles direitos universais e naturais que a lei humana não pode jamais negar.
O fundamentalismo e a hostilidade contra os crentes prejudicam a laicidade dos Estados. Para Bento XVI, não se pode esquecer que o fundamentalismo religioso e o laicismo são formas reverberadas e extremas de rejeição do legítimo pluralismo e do princípio de laicidade. Ambas têm uma visão redutiva e parcial da pessoa humana, favorecendo formas, no primeiro caso, de integralismo religioso e, no segundo, de racionalismo. “A sociedade, que quer impor ou negar a religião por meio da violência, é injusta para com a pessoa e para com Deus, mas também para consigo mesma.”
Por fim, ele afirma que o mundo tem necessidade de Deus; tem necessidade de valores éticos e espirituais, universais e compartilhados, e a religião pode oferecer uma contribuição preciosa na sua busca, para a construção de uma ordem social justa e pacífica a nível nacional e internacional. “A paz é um dom de Deus e, ao mesmo tempo, um projeto a realizar, nunca totalmente cumprido. Uma sociedade reconciliada com Deus está mais perto da paz.”
Leia a íntegra da mensagem do Papa Bento XVI no post abaixo.