sexta-feira, 29 de junho de 2012

Salvar a Criação



Vivemos estes dias, aqui na nossa cidade do Rio de Janeiro, a Rio+20. A preservação do planeta, da criação de Deus é um tema que envolve todos os seres humanos de boa vontade. O cristão olha a realidade ao seu redor com uma visão de fé. A criação tem a sua origem no amor de Deus. O livro do Gênesis inicia dizendo que Deus criou tudo. O mundo procede da vontade livre de Deus, que quis fazer as criaturas participantes do seu ser, da sua sabedoria e da sua bondade. N o vértice da criação, Deus colocou o homem e a mulher como aqueles que, em nome do próprio Deus, devem administrar a terra (Gn 1, 28). O Papa Bento XVI diz: “A harmonia descrita na Sagrada Escritura entre o Criador, a humanidade e a criação foi quebrada pelo pecado de Adão e Eva, do homem e da mulher, que pretenderam ocupar o lugar de Deus, recusando reconhecerem-se como suas criaturas. Em conseqüência, ficou deturpada também a tarefa de ‘dominar’ a terra, de a ‘cultivar e guardar’, e gerou-se um conflito entre eles e o resto da criação (cf. Gn 3, 17-19). O ser humano deixou-se dominar pelo egoísmo, perdendo o sentido do mandato de Deus e, no relacionamento com a criação, comportou-se como explorador pretendendo exercer um domínio absoluto sobre ela. Mas o verdadeiro significado do mandamento primordial de Deus, bem evidenciado no livro do Gênesis, não consistia em uma simples concessão de autoridade, mas antes em um apelo à r esponsabilidade”. O ponto de partida na salvaguarda da obra da criação.
Hoje, não se pode f icar indiferente diante dos problemas que provêm das alterações climáticas: a desertificação, a poluição dos rios e dos lençóis de água, a perda da biodiversidade, o aumento das calamidades naturais, o desflorestamento, a diminuição de áreas produtivas etc. O cuidado do planeta tornou-se um imperativo para todos. Hoje, começa-se a desenvolver uma mentalidade de preservação da ecologia. Urge conciliar desenvolvimento e sustentabilidade do planeta, exploração dos recursos da natureza e sustentabilidade, progresso econômico e sustentabilidade; a própria vida cotidiana necessita ser pensada de f orma s ustentável. B ento XVI afirma: “Ora, não é difícil constatar como a degradação ambiental é, muitas vezes, o resultado da falta de projetos políticos clarividentes ou da persecução de míopes interesses econômicos, que se transformam, infelizmente, numa séria ameaça para a criação. Para contrastar tal fenômeno, na certeza de que cada decisão econômica tem conseqüências de caráter moral é necessário também que a atividade econômica seja mais respeitadora do meio ambiente. Quando se lança mão dos recursos naturais, é preciso preocupar-se com a sua preservação, prevendo também os seus custos em termos ambientais e sociais, que se devem contabilizar como uma parcela essencial da atividade econômica”.
É necessário reafirmar a solidariedade entre as gera­ções. Nosso uso irresponsável da natureza não pode ser pago pelas gerações futuras. Bento XVI declara: “Herdeiros das gerações passadas e beneficiá­rios do trabalho dos nossos con­temporâneos, temos obrigações para com todos, e não podemos desinteressar-nos dos que vi­rão, depois de nós, aumentar o círculo da família humana. A solidariedade universal é, para nós, não só um fato e um be­nefício, mas também um dever. Trata-se de uma responsabili­dade que as gerações presentes têm em relação às futuras, uma responsabilidade que pertence também a cada um dos Estados e à comunidade internacional.”
A degradação ambiental questiona todos nós, nossos estilos de vida, os modelos de consumo, de produção, de exploração dos recursos da natureza, o próprio modelo econômico, muitas vezes insus­tentável do ponto de vista am­biental. Bento XVI diz ainda: “Torna-se indispensável uma real mudança de mentalidade que induza todos a adotarem novos estilos de vida, nos quais a busca do verdadeiro, do belo e do bom, e a comunhão com os outros homens, tendo em vista o crescimento comum, sejam os elementos que deter­minam as opções do consumo, da poupança e do investimen­to”. D eve-se e ducar c ada v ez mais para se construir a paz a partir de opções clarividentes em nível pessoal, familiar, comunitário e político. Todos somos responsáveis pela pro­teção e cuidado da criação. Tal responsabilidade não conhece fronteiras”.

DOM PAULO CEZAR COSTA
BISPO AUXILIAR DA ARQUIDIOCESE DO RIO
FOTO: MACELLO CASAL JR / ABR