terça-feira, 10 de abril de 2012

#afavordavida: manifestação contra o aborto na internet

Já começou o ‘twitaço’, com a hashtag #afavordavida, na noite desta terça-feira, dia 10 de abril, com a proposta de mostrar numa rede social o desejo de defender a vida de crianças com anencefalia.
O ‘twitaço’ faz parte das inúmeras iniciativas que estão sendo realizadas para manifestar a opinião da maioria da população brasileira que é contrária ao aborto, em vista do julgamento que será feito em sessão extraordinária, nesta quarta-feira, dia 11, a partir das 9h, pelo Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) nº 54, para decidir se o aborto poderá ser realizado nos casos dos bebês anencéfalos.
Para impedir a sentença de morte de crianças inocentes, a CNBB convocou a população a manifestar-se contra o aborto, especialmente através de vigílias de oração em capelas e paróquias.
Confira a entrevista com o médico e professor da Faculdade de Ciências Médicas da Uerj Rodolfo Acatauassu.

TF – Qual é a sua opinião sobre a votação da ADPF 54 no Supremo Tribunal Federal?
Rodolfo Acatauassu –
Essa ação não tem fundamento do ponto de vista médico, porque, segundo ela, uma criança com anencefalia não teria possibilidade de vida extrauterina. Outro aspecto equivocado é acreditar que na anencefalia a pessoa não tem encéfalo. A anencefalia é caracterizada pela falta de parte do encéfalo, não do encéfalo como um todo. Sendo assim, a criança com anencefalia pode respirar, chorar, movimentar-se, deglutir e ir para sua casa com seus familiares.
A sobrevida dessas crianças por enquanto é pequena, porém, há notícias de sobrevida um pouco maiores de meses e de mais de dois anos. Podemos dizer, até por prudência, que enquanto uma investigação mais aprofundada não for feita, é necessário prestar atenção nesses casos de maior sobrevida na anencefalia. Por isso que esse julgamento no STF não tem cabimento, porque a tese de que não se trata de abortamento, porque não há essa possibilidade de vida extrauterina, está equivocada.

TF – O aborto por anencefalia pode causar a banalização da vida e a aprovação do aborto em outras situações?
Rodolfo Acatauassu –
Sim. É uma postura inadequada que não respeita a dignidade humana, e nós devemos estar muito atentos porque em passado recente, em nome de uma ideologia nazista, muitas crianças foram eliminadas antes de nascer e até após o nascimento. O aborto eugênico, ou seja, aquele que elimina crianças com malformações na sua idade fetal é um recurso que não é previsto na nossa legislação e nem dentro do espírito do nosso povo, que sempre tem acolhido essas crianças doentes e mais frágeis. Nós sabemos que em culturas diferentes da nossa até crianças com Síndrome de Down podem ser abortadas e mortas intraútero, mas não é o caminho do nosso povo.
A boa medicina sempre vai intervir para tentar curar essas crianças intraútero, assim como está acontecendo no caso da meningomielocele, que é um defeito do tubo neural posterior. Essas crianças são operadas intraútero, isso tem diminuído as sequelas e elas têm uma oportunidade de uma melhor qualidade de vida. O caminho da medicina é tentar, por técnicas modernas, reverter esse tipo de malformação, para sempre atuar no sentido de preservar a vida humana.

TF – Qual a sua opinião sobre a tese que defende o aborto de crianças com anencefalia por causa do sofrimento de seus pais?
Rodolfo Acatauassu –
Qualquer doença grave comunicada em nossa família sempre trará um sofrimento e uma comoção, mas isso faz parte da vida, e não é a eliminação pela morte a forma de melhor conduzir esse tipo de sofrimento, e sim o apoio psicológico e espiritual.

TF – O que dizer para aqueles que dizem que a mulher pode abortar porque a criança “pertence ao seu corpo”?
Rodolfo Acatauassu –
Na realidade, ali não é um corpo de mulher, mas sim o corpo de uma outra pessoa, de uma criança, e isso a biologia ensina com muita propriedade. O posicionamento da medicina sempre tem sido propiciar a sobrevida das duas pessoas, e qualquer um dos dois que se perca traz muito sofrimento ao médico que está cuidando da mãe e da criança.

TF – Como uma criança com anencefalia deve ser cuidada?
Rodolfo Acatauassu –
Com os cuidados paliativos, da melhor forma possível, para que possa sobreviver mais tempo e ter um grau de interação com sua família. Dessa forma, seus pais terão a consciência tranquila de que fizeram tudo pelo seu filho. Por outro lado, os pais que decidirem pelo aborto terão a consciência intranquila de terem, de uma certa forma, sido piores que a doença, ou seja, precipitando a morte em relação à própria evolução natural da doença. Há uma necessidade de se contemplar todos esses aspectos para enfocar bem a situação.
Ao nosso ver, em resumo, essa tese da ADPF 54 não encontra respaldo na literatura médica, e qualquer ponto que mexa na legislação do aborto é sempre resolvido por parte das vias legislativas. Naturalmente, nós somos sempre a favor da preservação da vida e do tratamento médico das crianças que têm as malformações congênitas. Jamais devemos ir pelo caminho da eliminação pela morte dessas crianças.

CARLOS EDUARDO BITTENCOURT E CLÁUDIA BRITO