segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Silêncio e palavra: caminho de evangelização



O Papa Bento XVI divulgou, no dia 24 de janeiro, a mensagem para o próximo Dia Mundial das Comunicações Sociais, que será celebrado no próximo dia 20 de maio. Ao abordar o tema do silêncio, o Pontífice leva a refletir que o silêncio, de fato, favorece a dimensão do discernimento e do aprofundamento e pode ser visto como um primeiro acolhimento da Palavra.
Destacamos alguns trechos dessa mensagem, que pode ser lida na íntegra no site do Vaticano: http://www.vatican.va/


A RELAÇÃO ENTRE SILÊNCIO E PALAVRA


Silêncio e palavra: dois momentos da comunicação que se devem equilibrar, alternar e integrar entre si para se obter um diálogo autêntico e uma união profunda entre as pessoas.
Quando palavra e silêncio se excluem mutuamente, a comunicação deteriora-se, porque provoca um certo aturdimento ou, no caso contrário, cria um clima de indiferença; quando, porém se integram reciprocamente, a comunicação ganha valor e significado.

SILÊNCIO É PARTE INTEGRANTE DA COMUNICAÇÃO


Sem ele, não há palavras densas de conteúdo. No silêncio, escutamo-nos e conhecemo-nos melhor a nós mesmos, nasce e aprofunda-se o pensamento, compreendemos com maior clareza o que queremos dizer ou aquilo que ouvimos do outro, discernimos como exprimir-nos.
Calando, permite-se à outra pessoa que fale e se exprima a si mesma, e permite-nos a nós não ficarmos presos, por falta da adequada confrontação às nossas palavras e ideias. Deste modo abre-se um espaço de escuta recíproca e torna-se possível uma relação humana mais plena.


DO SILÊNCIO DERIVA UMA COMUNICAÇÃO AINDA MAIS EXIGENTE


É no silêncio, por exemplo, que se identificam os momentos mais autênticos da comunicação entre aqueles que se amam: o gesto, a expressão do rosto, o corpo enquanto sinais que manifestam a pessoa.
No silêncio, falam a alegria, as preocupações, o sofrimento, que encontram, precisamente nele, uma forma particularmente intensa de expressão. Por isso, do silêncio, deriva uma comunicação ainda mais exigente, que faz apelo à sensibilidade e àquela capacidade de escuta que frequentemente revela a medida e a natureza dos laços.


DISCERNIR O QUE É IMPORTANTE


Quando as mensagens e a informação são abundantes, torna-se essencial o silêncio para discernir o que é importante daquilo que é inútil ou acessório. Uma reflexão profunda ajuda-nos a descobrir a relação existente entre acontecimentos que, à primeira vista, pareciam não ter ligação entre si, a avaliar e analisar as mensagens; e isto faz com que se possam compartilhar opiniões ponderadas e pertinentes, gerando um conhecimento comum autêntico. Por isso é necessário criar um ambiente propício, quase uma espécie de "ecossistema" capaz de equilibrar silêncio, palavra, imagens e sons.


A RESPOSTA DO SILÊNCIO


O silêncio é precioso para favorecer o necessário discernimento entre os inúmeros estímulos e as muitas respostas que recebemos, justamente para identificar e focalizar as perguntas verdadeiramente importantes.
Entretanto, neste mundo complexo e diversificado da comunicação, aflora a preocupação de muitos pelas questões últimas da existência humana: Quem sou eu? Que posso saber? Que devo fazer? Que posso esperar? É importante acolher as pessoas que se põem estas questões, criando a possibilidade de um diálogo profundo, feito não só de palavra e confrontação, mas também de convite à reflexão e ao silêncio, que às vezes pode ser mais eloquente do que uma resposta apressada, permitindo a quem se interroga descer até ao mais fundo de si mesmo e abrir-se para aquele caminho de resposta que Deus inscreveu no coração do homem.


A INTERNET TAMBÉM COMO MEIO DE REFLEXÃO


Devemos olhar com interesse para as várias formas de sites, aplicações e redes sociais que possam ajudar o homem atual não só a viver momentos de reflexão e de busca verdadeira, mas também a encontrar espaços de silêncio, ocasiões de oração, meditação ou partilha da Palavra de Deus. Na sua essencialidade, breves mensagens – muitas vezes limitadas a um só versículo bíblico – podem exprimir pensamentos profundos, se cada um não descuidar o cultivo da sua própria interioridade.


DEUS FALA POR MEIO DO SEU SILÊNCIO


O Deus da revelação bíblica fala também sem palavras: "Como mostra a Cruz de Cristo, Deus fala também por meio do seu silêncio. O silêncio de Deus, a experiência da distância do Onipotente e Pai é etapa decisiva no caminho terreno do Filho de Deus, Palavra encarnada.
O silêncio de Deus prolonga as suas palavras anteriores. Nestes momentos obscuros, Ele fala no mistério do seu silêncio" (Exortação apostólica pós-sinodal "Verbum Domini", nº 21). No silêncio da Cruz, fala a eloquência do amor de Deus vivido até ao dom supremo. Depois da morte de Cristo, a terra permanece em silêncio e, no Sábado Santo – quando "o Rei dorme (…), e Deus adormeceu segundo a carne e despertou os que dormiam há séculos" (cf. "Ofício de Leitura") –, ressoa a voz de Deus cheia de amor pela humanidade.


NO SILÊNCIO O HOMEM FALA COM DEUS


Se Deus fala ao homem mesmo no silêncio, também o homem descobre no silêncio a possibilidade de falar com Deus e de Deus. "Temos necessidade daquele silêncio que se torna contemplação, que nos faz entrar no silêncio de Deus e assim chegar ao ponto onde nasce a Palavra, a Palavra redentora" (Homilia a Membros da Comissão Teológica Internacional, em 6 de outubro de 2006).
Quando falamos da grandeza de Deus, a nossa linguagem revela-se sempre inadequada e, deste modo, abre-se o espaço da contemplação silenciosa. Desta contemplação nasce, em toda a sua força interior, a urgência da missão, a necessidade imperiosa de "anunciar o que vimos e ouvimos", a fim de que todos estejam em comunhão com Deus (cf. 1 "Jo" 1, 3).
A contemplação silenciosa faz-nos mergulhar na fonte do amor, que nos guia ao encontro do nosso próximo, para sentirmos o seu sofrimento e lhe oferecermos a luz de Cristo, a sua mensagem de vida, o seu dom de amor total que salva.


SILÊNCIO E PALAVRA: ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO ECLESIAL


Palavra e silêncio. Educar-se em comunicação quer dizer aprender a escutar, a contemplar, para além de falar; e isto é particularmente importante paras os agentes da evangelização: silêncio e palavra são ambos elementos essenciais e integrantes da ação comunicativa da Igreja para um renovado anúncio de Jesus Cristo no mundo contemporâneo.
A Maria, cujo silêncio "escuta e faz florescer a Palavra" (Oração pela Ágora dos Jovens Italianos em Loreto, 1 e 2 de setembro de 2007), confio toda a obra de evangelização que a Igreja realiza através dos meios de comunicação social.


FOTO: GUSTAVO DE OLIVEIRA