quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Delicadezas de Deus

Depois de dois anos como responsável pela peregrinação dos símbolos da Jornada Mun­dial da Juventude no Regional Leste 1 da CNBB, padre Jefferson Merighetti se emocionou no dia da despedida, 13 de outubro. Os símbolos seguiram para o Vatica­no junto com a relíquia do Beato João Paulo II. De lá serão levados, no Domingo de Ramos, para a Polônia, sede da próxima JMJ.

Testemunho de Fé – O que representou para o Brasil a visita dos símbolos?
Padre Jefferson Merighetti - O Brasil foi envolvido por uma espiri­tualidade muito forte da Cruz, e mais de 50 milhões de pessoas tiveram essa experiência. Os símbolos da jornada nesses dois anos fizeram uma passagem única, histórica. Por diversos fatores, a peregrinação no Brasil foi inigualável: pela extensão tanto territorial como de tempo, pela participação e receptividade dos fiéis, pela diversidade dos ambientes por onde passou.

TF - O que representou con­duzir esses símbolos por todo o Brasil?
Padre Jefferson - A peregrinação dos símbolos mudou a minha vida. Foram dois anos acompanhando esses símbolos pelos estados. Vivi em muitos lugares momentos for­tíssimos, ao ver o ser humano sendo tocado por Deus. Meu sacerdócio foi edificado com essa peregrinação. Eu sou uma pessoa muito mais feliz hoje, porque através dos símbolos eu me encontrei com o ser humano. E me encontrando com o ser humano, me encontrei com Cristo. Eu sou pro­fundamente grato a diversos órgãos, diversas autoridades civis, militares, governos e tantas pessoas que pos­sibilitaram que, do Oiapoque ao Chuí, o Brasil vivesse essa experiência de peregrinação dos símbolos.

TF - O que você destacaria nesses dois anos de peregrina­ção?
Padre Jefferson - Eu vi atitudes heróicas para levar os símbolos aos rincões da Amazônia e no Norte, no Nordeste, no Sul... verdadeiras aventuras para que ninguém fosse esquecido. Em populações ribeiri­nhas, presídios, cracolândias, e tantos lugares onde o ser humano está escravo de coisas ruins, as pessoas queriam de todas as formas levar es­ses símbolos. E levaram. Isso marcou muito as nossas dioceses, os muitos municípios, os órgãos federais... Pessoas de outras crenças, pessoas descrentes, pessoas intolerantes à fé, à religião, eram surpreendidas pelos símbolos. E eu sou testemunha disso.

TF - E qual foi a importância da peregrinação dos símbolos para os jovens?
Padre Jefferson - A juventude, com os símbolos, se tornou muito mais protagonista. Isso é um mote que, desde o início, como diretor da Pré-Jornada, eu levantei. Passei por bastante dificuldade para que o jovem fosse protagonista. E foi. Durante essas peregrinações, nós vimos o jovem, claro que com o apoio de muitos adultos, com o apoio de muitas instituições, exercer a lide­rança ao falar de Deus e conduzir as pessoas a Deus. Viver a experiência de Deus. E isso mexeu com muitos outros jovens que não tinham essa experiência. É por isso que marcou tanto a Igreja e a sociedade civil: porque se viram jovens iluminados, com conteúdo, com vida e com ale­gria, que tinham garra, que tinham perseverança. E as pessoas diziam: “Mas o que é que esses jovens estão ganhando? Por que estão se dedi­cando tanto assim?”. E quando se deparavam com a gratuidade, com a alegria, com a doação, com o volun­tariado, ficavam edificados. Esta é a surpresa dos símbolos. Então, o que eu destaco muito é o protagonismo juvenil. O Brasil pode viver muito mais na alegria de ser uma socieda­de harmônica quando o jovem tem seu espaço, tem seu direito, tem seu dever a ser cumprido. E os símbolos ajudaram nisso.

TF - Qual o sentimento que fica nesse momento de despedida?
Padre Jefferson - É com alegria que a gente termina essa etapa. Ao mesmo tempo com saudade, com pesar. Porque é uma despedida. E despedida pesa um pouco no coração, não é? Mas esses símbolos, para mim, têm um valor personificado, digamos. Para mim, Deus tocou pro­fundamente nesse ícone, nessa cruz. E para mim isso tem um significado muito especial. Como Dom Orani falou, os símbolos vêm, os símbolos vão. Então, eu sei que muitos outros símbolos vão passar pela minha história, e de tantas outras pessoas, mas são delicadezas de Deus que vão marcando nossa vida, vão marcando a nossa história em cada etapa e deixando ali o rastro do divino em nossa humanidade.
São dois anos que vou guardar para o resto da vida no meu coração. E tudo o que eu puder partilhar sobre essa experiência, eu vou partilhar, porque fui muito feliz e sou ainda mais feliz agora.
NATHALIA CARDOSO
nathalia@testemunhodefe.com.br
COLABORAÇÃO: ANDRÉIA GRIPP E RAPHAEL FREIRE (WEBTV REDENTOR)


Foto: Gustavo de Oliveira