terça-feira, 1 de janeiro de 2013

É possível superar a dependência?


O trabalho da Igreja e a experiência das comunidades terapêuticas, apresentada nas últimas edições do “Testemunho de Fé”, revelaram o grande flagelo que a dependência química representa para a sociedade e o que é feito para mudar esse quadro. Testemunhos mostram que é possível recomeçar longe das drogas


Mesmo com o tratamento, o desejo de mudança e ajuda da família e das instituições, muitos acabam tendo alguma recaída após a internação ou mesmo abandonando o tratamento antes do fim. A grande incidência de pessoas que voltam ao vício pode gerar desânimo em quem passa pelo drama. Porém, o testemunho de quem conseguiu superar a dependência e recomeçar a vida gera esperança e mostra que é possível, sim, vencer este desafio.
Quem comprova isso é Ladimir Márcio Silvério, de 47 anos, membro da Comunidade Católica Maranathá. Após 19 anos consumindo os mais diversos tipos de entorpecentes, ele conseguiu se “libertar” da dependência. Hoje, Ladimir é responsável por uma das comunidades terapêuticas da instituição, no bairro de Realengo.
Foi com a ajuda da esposa, que indicou a Maranathá, que ele começou a desejar mudar de vida. “Ela foi o meu anjo da guarda. Ao perceber que tinha tantas pessoas lutando comigo para que eu saísse dessa situação, eu me determinei a mudar de vida. Fiz o retiro, e depois de 19 anos descobri que existe vida após as drogas, que eu tinha uma casa, uma família e que podia estar ali por inteiro; descobri que tinha um Deus que me amava”, relatou.
Ladimir afirma que não é fácil sair da dependência, mas também não é algo impossível. “A gente tem de abandonar uma história de vida construída com as drogas para reconstruir uma nova, para viver na luz de Cristo. Toda família da minha esposa me ajudou, não desistiu de mim. Hoje eu faço isso com as pessoas, não desisto delas, pois Cristo não desiste de nós. Em gratidão, quero que eles encontrem esse amor perfeito que eu encontrei na pessoa de Cristo”, declarou.

PERSEVERANÇA E FÉ PARA A SOBRIEDADE

A perseverança é um dos fatores que contribui para a eficácia do pós-tratamento, afirmou Cristina Carvalho, coordenadora arquidiocesana da Pastoral da Sobriedade. “Nosso lema é alcançar a santidade na sobriedade. Muitos têm recaídas, e até faz parte do processo, mas o milagre vai acontecer pela perseverança. Os 100% acontecem na persistência de cada um”, afirmou.
A Pastoral da Sobriedade existe há 15 anos no Brasil, uma iniciativa da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). No Rio, está desde 2004. Com 26 grupos de autoajuda e uma média de 300 participantes semanais, a Pastoral já realizou mais de 73.500 atendimentos e capacitou mais de 500 agentes ao longo destes anos de atuação.
A Pastoral da Sobriedade é a porta de entrada para o tratamento, onde se faz a triagem e, dependendo do caso, faz-se o encaminhamento para um ambulatório ou uma comunidade terapêutica. Mas pode ser também a “porta de saída”, um local onde se ajuda a manter a “sobriedade”, através de palestras, da convivência com outras pessoas, que partilham o mesmo desafio, e da oração.
Ela atua principalmente na prevenção, mas também desenvolve um trabalho de acompanhamento dos casos, e, por meio da evangelização e anúncio de Cristo, mostra o caminho para um recomeçar com dignidade e autoestima. “A Pastoral tem uma porta aberta que são os grupos, nos quais recebemos pessoas com diversos tipos de dependência, desde o chocolate, à codependência afetiva, ao vício do álcool e das drogas. Temos pessoas que há mais de oito anos conseguiram se livrar do vício e estão perseverando no grupo”, declarou Cristina.
Com a articulação da Rede Legado da JMJ Rio2013, a Pastoral espera ampliar o número de seus grupos nas paróquias. “Hoje realizamos cursos e palestras nas escolas, nas igrejas, empresas. Temos uma tenda de prevenção itinerante para atender aos pedidos”, disse Cristina.

REPORTAGEM: ROCÉLIA SANTOS
FOTO: CARLOS MOIOLI